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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

As lamparinas e o Sol

    Nada mais apropriado que iniciar esta comunicação, introduzida por instigante epígrafe titular, com uma pergunta, tão curiosa quanto. Ei-la: o que é um sofisma?

       Sofisma é um argumento falso, com cara de verdade, usado para induzir alguém em erro. Em termos simples, sofisma é uma mentira, mascarada de verdade. Enfim, um laço, armado às ocultas, para prender os desprevenidos.

       Expressivo exemplo de sofisma está na oratória dos que tomam a intercessão do homem em favor de seu semelhante, junto a Deus (por exemplo, a oração dos pais pelos filhos), como argumento, para defenderem a pretendida legitimidade bíblica de determinada prática religiosa. 

       Que prática? A de se recorrer à intercessão de criaturas que já morreram, criaturas tidas como privilegiadas espiritualmente, para intermediarem a ação de Deus em favor do homem. Puro sofisma! 

       Por quê?
    Primeiro, porque a invocação dos mortos, em favor dos vivos, é uma atitude absolutamente condenada por Deus, conforme as Escrituras.  Diz o Senhor, pelo ministério profético de Isaías: “não recorrerá um povo ao seu Deus? A favor dos vivos interrogar-se-ão os mortos?” (Is 8.19b).

       Esta é a verdade bíblica: todos os que se foram desta terra para o além – TODOS! inclusive, Maria, mãe de Jesus, TODOS, com exceção de Jesus Cristo ressurreto – estão mortos, relativamente à vida aqui.  E é nessa perspectiva que a proibição divina os atinge. Considerados de outro ângulo, ou seja, na esfera do além-túmulo, estão vivos (Mt 22.32).  Quanto a este mundo, porém – frisamos –, o Eclesiastes é taxativo sobre a realidade deles, os mortos: “já não têm parte alguma neste século, em coisa alguma que se faz debaixo do sol” (Ec 9.6).

      Dando continuidade à resposta, vamo-nos servir de um episódio registrado em três dos evangelhos bíblicos. Conforme esses relatos, alguns homens conduziram um paralítico a Jesus, para ser curado. E, para isso, tiveram de fazer um grande esforço, pois a casa onde Jesus se encontrava, em Cafarnaum, estava abarrotada de gente. O que fizeram os referidos homens? Subiram ao telhado e, por entre as telhas, baixaram o paralítico com a cama à presença de Jesus. Vendo a fé deles, Jesus curou o paralítico (Mt 9.1-8; Mc 2.3-12; Lc 5.18-26).

       Reflitamos. Aqueles homens foram verdadeiros intercessores, junto a Jesus, em favor do paralítico. Intercessores cujas palavras foram atos de uma eloquência fortíssima. Mas em que consistiu a sua intercessão? Consistiu em levar o paralítico até Jesus. Nada, nada mais poderiam eles fazer, por si e em si mesmos, para resolverem o problema do paralítico. Assim, cessada em seu limite a ação deles, iniciou-se e se concluiu a ação de Deus, na Pessoa de seu unigênito Filho. A ação de curar o entrevado.

       Então, quando o homem intercede, junto a Deus, por seu semelhante, o que ele faz é levar este à presença de Deus. Daí por diante, a ação é exclusivamente de Deus.

       E agora vem o ponto X da questão. Se, no plano humano, muitos podem ser os intercessores – homens suplicando a Deus por homens –, lá, no além desta vida temporal, somente UM Ser, conforme a Bíblia, tem autoridade para interceder pelo homem, ante a face de Deus: JESUS (Hb 7.25). 

       O apóstolo Paulo colocou isso de forma categórica: “Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1 Tm 2.5). E é bom que se saiba que a convicta veemência de tal afirmação do Apóstolo não resulta de um ponto de vista dele. Trata-se, na verdade, de uma ressonância fidedigna de todo o ensino do seu divino Mestre sobre esse assunto, enfaticamente resumido na declaração crística: “ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6c).

       De fato, examinando-se a doutrina de Cristo, registrada no Novo Testamento, em lugar nenhum se encontrará a orientação para se orar a qualquer outro ser que não seja DEUS, usando-se a intermediação de qualquer outro nome que não seja o Nome de JESUS.

       Quando os discípulos de Jesus lhe pediram que os ensinasse a orar, Ele disse: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus...” (Mt 6.9).

       E aí? – é pertinente perguntar-se. Conforme essa oração-modelo, qual é o destinatário – o Ser, que está nos céus – que se deve invocar? DEUS, o Pai. Está claro? E o nome de qual intermediário deve ser tomado, para se poder chegar diante desse Pai sumamente grandioso?

       Nesse momento do ensino, o nome do intermediário fica implícito, isto é, fica embutido na identidade filial das pessoas que oram, invocando a Deus como seu Pai celeste.  E que nome é esse que concede a tais filhos dos homens  a natureza  espiritual de filhos de Deus?

       É o Nome de Jesus! Como está escrito: “Mas, a todos quantos o [=Jesus] receberam, aos que creem no seu nome, [Jesus] deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus” (Jo 1.12).

       E, para não haver dúvida alguma, o Mestre divino, em outros momentos de seu ministério, deixa claro que é exclusivamente em seu Nome que a oração deve ser dirigida ao Pai, ou a Ele próprio, que é Deus feito homem. Confiram-se os seguintes registros do evangelista João, nos capítulos 14 e 16 do seu testamento:

“E tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho” (14.13).
“Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei “ (14.14).
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador” (14.16).
“Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar” (16.23).
“Até agora, nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra” (16.24).
“Naquele dia, pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai, pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes e crestes que saí de Deus” (16.26-27).

       Sendo Jesus Cristo o Mediador de uma Nova Aliança, no seu sangue (Hb 12.24), ninguém, além d’Ele, tem autoridade ou autorização para, na esfera espiritual, intermediar a ação de Deus em favor do homem. Intercedendo pelos discípulos e por todos os que viriam a crer n’Ele, Jesus deixou bem clara a absoluta exclusividade da sua posição de intercessor, junto do Pai, em favor do cristão. Ele orou:

        “Pai, é chegada a hora; [...]. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti só por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. [...]. Eu rogo por eles [...]. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. [...]. Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim. [...]” – Jo 17.1, 3, 9,15, 20. E não se pode esquecer o convite que Ele faz a TODOS os cansados e sobrecarregados: “Vinde a mim [...] e eu vos aliviarei” (Mt 11.28).

       Em suma, a mediação dos homens, na esfera de suas vivências – se for legitimamente bíblica –, consiste em, valendo-se da autoridade do Nome de Jesus, levarem-se uns aos outros à presença do Pai celestial.  Já a Mediação de Cristo, relativamente aos mediadores humanos, consiste em receber aqueles que, em seu Nome, foram levados à presença do Pai, para que, concedendo-lhes a bênção buscada, o Pai seja glorificado no Filho (Jo 14.13).  Tal como aconteceu no episódio do paralítico, em Cafarnaum.

      Assim, os intercessores humanos são lamparinas cujas chamas alumiam o trecho a ser percorrido na condução de seus semelhantes até Deus; o Intercessor divino é o Sol, cuja luz opera a Vida no ser dos favorecidos por Sua suprema e singular intercessão. 
“Buscai-me e vivei”, diz o Senhor (Am 5.4)

Profª Maria Helena Garrido Saddi,
Doutora em Letras, membro da Catedral Evangélica Hebrom. 
hgsaddi@gmail.com

A Graça e a Paz do Senhor Jesus Cristo.

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