Qual
deve ser a atitude cristã no momento da própria dor?
Já ouvi dizer que “cabrito bom não
berra”, “baseado” em Isaías 53.7, que diz que o Cordeiro “não abriu a sua boca”. Mas já ouvi também que “quem não chora não
mama”, com “suporte” em Mateus 5.4, que diz serem bem-aventurados os que choram.
Tem gente que, por índole ou formação,
logo pede socorro. Gosta de ter muita gente em volta e fala dos problemas sem
embaraço. Mas tem gente que prefere calar-se, “encaramujar-se”.
As duas atitudes me parecem humanas.
Aquele que logo procura ajuda não quer ficar sozinho com os problemas. Já o
outro se isola, absorto pela dor, que lhe rouba toda a energia e diz: “Não se
distraia, estou aqui”.
Em um extremo, o extrovertido pode não
aprender muito com o sofrimento, pois não se detém para aprofundá-lo; quer logo
se livrar dele, falar sobre ele, pedir oração. Corre também o risco de ser
machucado, pois essa abertura o torna vulnerável à rapina fraterna. Pode se
transformar até mesmo em tema de sermão dominical.
No outro extremo, o introvertido perde
muito do conforto que poderia ter com o conselho sensato, com as orações, com a
ajuda objetiva. Ao se isolar, preserva a imagem, a privacidade, mas terá de
resolver tudo sozinho. Eventualmente, um fardo excessivo e desnecessário, pois
a solução, ironicamente, poderia estar com o irmão não consultado.
Para além desses dois modelos naturais, a atitude
cristã deve considerar a Igreja. Crer na Igreja significa crer no pertencimento a um
corpo, nas juntas que nos vinculam a ele. Crer na Igreja é crer na comunhão dos
santos; em andar na luz, sem medo de se achegar a ela; é crer na submissão de
uns para com os outros, em verdade e em amor.
Outro dia, ouvi um irmão dizer: “Hoje
não vou à igreja, estou com muitos problemas”. Ele se referia ao culto. Parecia
ter perdido de vista que aquele era um bom lugar para buscar a graça de Deus,
intervenção divina direta ou por meio dos irmãos. Em seu desânimo, abria mão da
possibilidade de uma ação misericordiosa de Cristo por meio do seu corpo,
momento inefável em que experimentamos o “colo de Deus”.
Não sou muito de compartilhar minhas
dores. Tenho medo de me tornar um fardo ou de parecer fraco. Estou mais para o
segundo grupo, portanto. Mas tenho aprendido que, para além de índole, formação
ou temores, um gesto de fé me é requerido, especialmente no sofrimento: o gesto
da confissão (Tg 5.16). Talvez um exercício permanente de confissão, com todos
os riscos que envolve. É necessário, então, crer na Igreja e na comunhão dos
santos.
Entendo essa confissão de Tiago como
parte do “andar na luz” de João. É mais do que pedir perdão; é dizer quem sou.
Dar-se a conhecer foi o gesto de Emanuel. Por fé sou chamado a fazer o mesmo na
Igreja, mesmo que muitos reajam com o insensato “crucifica-o!”.
Assim, mesmo temeroso, vou e falo de
mim; em especial, dos meus problemas e limitações. Sim, confesso também meu
pecado. E busco forças para não “dourar a pílula”.
É o momento em que, por obediência,
revelo toda a minha fragilidade e confusão. É quando abro mão da minha imagem,
preferindo a obediência à aparência.
Autoria: Rubem Amorese
Por Litrazini
http://www.kairosministeriomissionario.com/
Graça e Paz
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