Quem teria imaginado que ouviríamos esta frase falada numa reportagem no rádio nos Estados Unidos: "Hoje, foram removidos aproximadamente 25,000 refugiados do Superdome em Nova Orleans para o Astrodome em Houston."
Há dias, nós assistimos os desdobramentos da tragédia em Mississippi e Louisiana e, se você for como eu, você lutou com sentimentos de choque e descrença … sentimentos que, ao longo dos últimos cinco anos, se tornaram familiares demais.
Mal entramos no novo milênio quando vimos torres desabando em Nova Iorque e aviões que colidiram com o Pentágono e os campos da Pennsylvania.
Nós vimos bombas cair em Bagdá e testemunhamos a terra antiga de Abraão se tornar uma zona de guerra para seus descendentes. Você pensaria que testemunhamos o bastante, entretanto veio o tsunami – uma onda devastadora que sugou a vida e inocência mar adentro.
E agora os frutos de Katrina. Uma cidade assentada em sete metros de água. Cidadãos se arrastando para os telhados e helicópteros pairando sobre os bairros. Equipes de resgate otimistas, saqueadores oportunistas, pessoas gratas, pessoas ressentidas, vimos de tudo.
E muitos viram isto de perto. Katrina chegou a San Antonio na forma de 12,500 desabrigados. Muitos de você estão conhecendo-os, alimentando-os, dando cheques, e trabalhando como voluntários. E você, como qualquer outro, tem razão em querer saber … O que está acontecendo aqui? 11 de Setembro, Iraque, tsunami, Katrina. E eu não mencionei nem pretendo minimizar os furacões Dennis e Ivan e Emily.
Jesus criticou os líderes da época dele por observar o tempo e ignorar os sinais: “Olhando o céu, vocês sabem como vai ser o tempo. E como é que não sabem explicar o que querem dizer os sinais da época?” Mateus 16:2-3 (NTLH).
O que devemos aprender de tudo isso? Será que Deus está nos enviando uma mensagem? Eu entendo que sim. E, eu penso que seria sábio de nossa parte prestarmos atenção. Há algumas lições espirituais que eu penso que Deus gostaria que nós aprendêssemos através desta tragédia. A primeira lição que nós vemos é…
I. A Natureza dos Bens: Temporário
Enquanto você escutou os desabrigados e sobreviventes, você prestou atenção nas palavras deles? Ninguém lamenta a perda de uma televisão com telão ou carrão submergido. Ninguém corre pelas ruas gritando, “Minha furadeira sem fio está perdida!” ou “Meus tacos de golfe foram levados pela correnteza.” Se eles lamentam, é por pessoas perdidas. Se eles se alegrarem, é por pessoas achadas.
Será que Jesus está nos lembrando que pessoas são mais importantes que posses? Numa nação onde nós temos mais shoppings que escolas secundárias, mais dívida que crédito, mais roupas para se vestir do que nós podemos de fato usar, estaria o Cristo dizendo:
“Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui.” (Lucas 12:15)?
Vemos um cassino navio inteiro puxado três quarteirões e colocado em cima de uma casa. Você vê carros de R$100,000 destruídos, que nunca mais serão dirigidos, escondidos nos escombros. E no fundo de nossas mentes nós ouvimos os ecos quietos de Jesus dizendo, “Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?” (Mateus 16:26).
Furacões furiosos e barragens quebradas têm um jeito de alavancar nosso dedos das coisas materiais que nós amamos. O que antes era precioso agora significa pouco; o que nós antes ignoramos agora é de significado eterno.
Um amigo e eu participamos de um culto de adoração na Igreja Batista Antioch domingo à noite passado. Vários líderes afro-Americanos tinham organizado uma reunião para orar pelos desabrigados que chegaram em San Antonio. Muitos deles sentaram nas filas dianteiras… vestidos com toda a roupa que eles possuíam: camisetas, calças jeans. Os rostos deles estavam cansados daquela semana. Mas quando a música iniciou e a adoração começou, eles ficaram de pé e cantaram com lágrimas nos olhos.
Eles eram ricos. Você é rico assim? Se todas as suas posses fossem levadas pela enchente, você poderia ainda adorar? Você ainda adoraria? Se não, você está segurando as coisas demais.
“Aos que têm riquezas neste mundo ordene que não sejam orgulhosos e que não ponham a sua esperança nessas riquezas, pois elas não dão segurança nenhuma. Que eles ponham a sua esperança em Deus, que nos dá todas as coisas em grande quantidade, para o nosso prazer! Mande que façam o bem, que sejam ricos em boas ações, que sejam generosos e estejam prontos para repartir com os outros aquilo que eles têm. Desse modo eles juntarão para si mesmos um tesouro que será uma base firme para o futuro. E assim conseguirão receber a vida, a verdadeira vida.” (1 Timóteo 6:17-19 NTLH).
Através de Katrina, Cristo nos fala: bens não importam; o importante são pessoas. Entenda a natureza dos bens materiais. Esteja igualmente ciente sobre:
II. A Natureza das Pessoas: Pecadores e Santos
Nós vemos os servos mais incríveis e histórias de abnegação e sacrifício. Nós vemos as pessoas dos conjuntos habitacionais salvando seus vizinhos, nós vemos funcionários públicos arriscando suas vidas por pessoas que nunca viram antes. Eu e minha esposa Denalyn visitamos um abrigo supervisionado por um de nossos vizinhos aqui em San Antonio. Conhecemos uma família de uns vinte primos e irmãos. Uma menina de seis ano contou para Denalyn sobre o homem de helicóptero que a salvou de uma varanda do terceiro andar e a levou para um lugar seguro.
Aquela criança nunca saberá quem é aquele homem. Ele nunca buscará qualquer aplauso. Ele salvou a vida dela… tudo no trabalho diário dele. Nós vimos a humanidade no seu auge. E nós vimos a humanidade no seu pior. Pilhando. Brigando. Ouvimos histórias de estupros e roubos. Alguém disse, “Os céus declaram a glória de Deus mas as ruas declaram a pecaminosidade do homem. ”As reportagens de Nova Orleans confirmaram a veracidade daquele ditado. Você pode imaginar não conseguindo dormir no abrigo do Superdome por temer que alguém poderia tentar estuprar sua filha se ela fosse para o sanitário no meio da noite?
Somos pessoas tanto de dignidade como de depravação. O furacão tirou mais que telhados; tirou a máscara da natureza humana. O problema principal no mundo não é a Mãe Natureza, mas, a natureza humana. Tire as barricadas policiais, abaixe as cercas, e o verdadeiro eu é revelado. No íntimo, somos selvagens.
Nós nascemos com uma única mentalidade “eu primeiro”. Você não tem que ensinar para seus filhos a discutirem. Eles não têm que ser treinados para exigir seus direitos. Você não tem que mostrar para eles como se espernearem ou fazer bico, é a natureza deles… de fato, é a natureza de todos nós agir assim.
“Todos nós éramos como ovelhas que se haviam perdido; cada um de nós seguia o seu próprio caminho” (Isaías 53:6 NTLH).
A palavra escolhida por Deus para nossa condição caída é pecado. O pecado celebra o “Eu”. À mercê dos nossos próprios desejos, enveredamos por uma vida descontrolada de “… fazendo o que o nosso corpo e a nossa mente queriam” (Efésios 2:3 NTLH).
Você não tem que ir para o Nova Orleans para ver o caos. Por causa de pecado, o marido ignora a esposa dele, os homens adultos seduzem os jovens. Os jovens tiram vantagem dos idosos. Quando você faz o que você quer e eu faço o que eu quero, a humanidade e civilidade implodem.
E quando os Katrinas da vida chegam, nossa verdadeira natureza é revelada e nossa necessidade mais profunda é desvelada: uma necessidade mais profunda que comida, mais permanente que diques firmes. Nós precisamos não de um sistema novo, mas de uma natureza nova. Nós precisamos ser mudados de dentro para fora. O qual nos leva à terceira mensagem de Katrina:
III. A Natureza da Graça de Deus: De Dentro Para Fora
Muito debate revolve em torno do futuro de Nova Orleans. A cidade será restabelecida? Consertada? Quanto tempo levará? Quem pagará por isto? Uma coisa é certa: alguém tem que limpá-la.
Ninguém está sugerindo o contrário. Todo mundo sabe, alguém tem que entrar e limpar a sujeira. Isso é o que Deus oferece fazer conosco. Ele entra em vidas inundadas pelo pecado e lava o que não serve mais. Paulo refletiu sobre a conversão dele mesmo e escreveu: “ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tito 3:5 ARA). Nossos pecados não têm nenhuma chance contra as mangueiras de incêndio da graça de Deus.
Mas ele faz mais que nos limpar; ele nos reconstrói. Na forma do seu Espírito Santo, Deus se instala e começa um projeto de renovação completa. “E agora, que a glória seja dada a Deus, o qual, por meio do seu poder que age em nós, pode fazer muito mais do que nós pedimos ou até pensamos!” (Efésios 3:20 NTLH).
E o que nós só podemos sonhar em fazer em Nova Orleans, Deus já fez com alma após alma, e ele fará assim com você, se você deixar.
As histórias mais perturbadoras da última semana são daqueles que recusaram salvamento. Aqueles que passaram suas horas finais acuados em sótãos e quartos lamentando a escolha que fizeram. Eles poderiam ter sido salvos. Eles poderiam ter saído… mas eles escolheram ficar. Muitos pagaram um preço permanente.
Você não tem que pagar aquele preço. O que resgatadores fizeram por pessoas na costa do Golfo do México, Deus fará para você. Ele entrou em seu mundo. Ele lançou uma corda em sua vida submergida em pecado. Ele salvará. Você simplesmente precisa fazer o que aquela menina fez: deixe Ele tirar você.
Eu mencionei minha visita à Igreja Batista Antioch na noite de domingo passado. O pregador local, pastor L. A. Williams deu uma mensagem no seguinte versículo: “Porém Noé achou graça diante do SENHOR.” (Gen. 6:8).
O pastor nos ajudou a ver todas as coisas que Noé não pôde achar por causa do dilúvio. Ele não pôde achar o bairro dele. Ele não pôde achar a casa dele. Ele não pôde achar os confortos de casa ou as pessoas da rua dele – Muita coisa ele não pôde achar. Mas o que ele poderia achar fez toda a diferença. Noé achou graça aos olhos de Deus.
Noé achou graça aos olhos de Deus. Se você tiver tudo, e nada de graça, você tem nada. Se você tiver nada, mas tiver a graça, você tem tudo.
Você encontrou a graça? Se não, eu quero lhe convencer a fazer o que aquela menina nos contou que ela fez. Quando o resgatador apareceu na varanda dela, ela o agarrou, fechou seus olhos, e segurou. É só isso que você precisa fazer. E se você nunca fez, mas gostaria de fazer, eu quero lhe persuadir a buscar a mão do seu resgatador, Jesus Cristo.
Seu Redentor vive, também. Este furacão foi o instrumento dele para conseguir sua atenção. Confie nEle enquanto você ainda pode.
Mensagem especial pregada em 10 de novembro de 2005, na Igreja de Oak Hills em San Antonio (Texas, USA). Título original: "O que o Katrina pode nos ensinar". Site oficial de Max Lucado: https://maxlucado.com/
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