
Na prática, há alguns pecados que são
socialmente aceitáveis, mesmo na igreja. Há um pecado em particular que tem
permeado nossa sociedade e nossas igrejas tão silenciosamente que nós raramente
prestamos atenção, que é a busca constante por mais, por além do que é
suficiente. Ou, usando uma palavra mais feia, o que nós chamamos de glutonaria.
Quando eu penso sobre glutonaria, eu penso em meu
desejo de devorar uma dúzia de rosquinhas, ajudando a descer com um copo de
achocolatado. Ou
talvez minha tendência de alimentar meu estômago com salgadinhos quando já nem
estou mais com fome. Muitos de nós podem olhar para o pecado da glutonaria e
pensar “não é bem com isso que eu luto” ou “que mal há nisso?”. Afinal, a
maioria das congregações possuem pessoas que comem demais, e elas não são
consideradas “menos espirituais” ou “relapsas” por isso.
Mas a glutonaria não é meramente um
vício por comida. E se olharmos em sua definição e contexto originais, a
glutonaria se torna muito mais próxima das nossas vidas do que gostaríamos de
admitir.
Em sua forma mais básica, glutonaria é
o vício da alma no excesso. Ela ocorre quando o gosto domina sobre a fome,
quando o querer domina sobre o precisar. E em nossa sociedade, onde “crescer na
vida” é o mais comum dos ideais, muitas vezes é difícil distinguir uma
conquista merecida de um excesso indulgente. Nesse sentido, mesmo os mais
atléticos e musculosos entre nós podem ser glutões. Qualquer um de nós pode
ser.
Todo desejo por excesso provém de uma falta de
satisfação. Eu
não estou satisfeito com a minha porção – seja a porção no meu prato, no leito
matrimonial ou na minha conta bancária. Por não estar satisfeito com minha
porção, eu busco uma porção maior. Mas porque cada porção é uma parte finita de
um todo finito, estou constantemente buscando um excesso que nunca poderá
satisfazer.
Essa é a história de Gênesis 3. Qual
foi o pecado do Jardim do Éden, se não um desejo por excesso? Adão e Eva
receberam um paraíso para os olhos e para o paladar, em total ausência de
qualquer vergonha, mas o que fazia do jardim um paraíso não era nada disso. Ali
era um paraíso porque Deus andava na viração do dia com eles. Apesar disso, a
queda de Adão e Eva ocorreu porque eles consideraram que mesmo isso não era suficiente.
Eles não estavam contentes com sua porção no paraíso, e então foram em busca –
com consequências desastrosas – de mais.

E mesmo assim, o desejo por “mais” não
é inerentemente mau, mas é quase sempre mal direcionado. O que nós precisamos é
de um apetite incansável pelo divino. Precisamos de uma santa voracidade.
Nossas carentes almas podem se voltar e serem capturadas por uma bondade
encontrada na presença do Deus todo glorioso. Há apenas uma fonte infinita de
satisfação que pode satisfazer nossos desejos sem fim.
Uma pequena prova de Sua graça suprema é o suficiente
para atrair um apetite há muito prisioneiro de porções menores. Se água roubada é doce,
graça abundante é ainda mais doce.
E há um efeito colateral estranho:
quanto mais bebemos do amor sem fim do Deus infinito, mais nossos gostos serão
transformados. A essência da graça vai permear cada vez mais fundo as almas
incansáveis dos mais carentes.
Na busca por porções menores, nosso paladar foi
anestesiado. Nos
tornamos dormentes para nossa fome real, nos enchendo com efemeridades. Mas
quando voltamos à fonte, nossos sentidos são renovados.
O Salmo 34.8 nos desafia a enxergar a
diferença: “Provai e vede que o SENHOR é
bom”. Eu entendo que Paulo entendeu esse verso quando disse ao povo de
Listra que Deus dá fartura e alegria para que nossos corações se convertam de
coisas vãs e se voltem para a satisfação suprema em quem Deus é (Atos
14.15.17).
Consequentemente, se Deus ordenou que sua bondade seja
vista e provada (e, implicitamente, ouvida, cheirada e tocada), isso tem, pelo
menos, duas implicações diretas. Primeiro, isso significa que cada prazer e satisfação
finitos tem o objetivo de nos apontar para o prazer e a satisfação infinitos em
Deus. Minha admiração por um pôr-do-Sol não precisa, assim, parar no horizonte,
mas deve continuar e subir em adoração e gratidão. Em segundo lugar, isso
significa que se nosso desejo por “mais” for mal-direcionado, então certamente
ele pode ser redirecionado na direção certa.

Nós cristãos domamos nosso deleite em Deus de tal
forma que sequer imaginamos como seria viver sempre em busca dEle. Se satisfazer em Deus é
algo tão distante para a maioria de nós quanto um estômago vazio. Por que não
focamos nossas almas na única bondade que pode lidar com nossos desejos? Por
que corremos atrás dos efêmeros sabores do dinheiro, da comida e do sexo?
Como disse George MacDonald, “certas vezes eu acordo
e, eis, já esqueci”. Dormir
é como um botão de reinício e minha fome muitas vezes é mal direcionada. Penso
ter fome do que é finito, mas minha necessidade real é Deus. Para nos
lembrarmos disso, precisamos provar profunda, constante e diariamente a bondade
de Deus. Então voltemo-nos e regozijemo-nos corretamente.
Jason Todd / Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo
Por Litrazini
http://www.kairosministeriomissionario.com/
Graça e Paz
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