O navio não tinha bússola. Deixou a ilha de Creta e dirigia-se à Itália. Navegava de
leste a oeste no mar Mediterrâneo, entre o sul da Europa e o norte da África.
Estavam a bordo o dono da embarcação, a tripulação e os passageiros, ao todo
276 pessoas. Dentre elas havia um oficial do exército romano, alguns soldados,
alguns presos e um médico e historiador chamado Lucas.
Um dos presos era Paulo de Tarso. O navio tinha saído de Alexandria, no
Egito, e levava uma boa carga de trigo para Roma. Um vento forte o tirou da
rota e uma tempestade escondeu o sol, a lua e as estrelas por duas semanas. O
céu só se abriu depois do naufrágio do barco nas proximidades da ilha de Malta,
ao sul da Sicília. Pode-se imaginar o alívio que o céu aberto trouxe para
aqueles náufragos depois de tanto tempo de céu fechado (At 27).
A questão é que há outras situações de céu aberto mais importantes do que a de
sentido literal. No mesmo livro de Atos há uma referência a céu aberto como
metáfora, referindo-se à visibilidade de Deus e de sua glória. Trata-se do
episódio envolvendo o primeiro mártir da história do cristianismo.
Estêvão
estava sendo apedrejado. A dor era enorme. A morte, iminente. Ninguém estava
por perto para suspender o apedrejamento. Ele olha firmemente para o céu e vê a
glória de Jesus Cristo. Então, Estêvão exclama: “Olhem! Eu estou vendo o céu aberto!” (At 7.56, NTLH). No
derradeiro momento da vida, esse fervoroso cristão vê o céu aberto e não a
escuridão da maldade humana e da morte.
Há nuvens espessas e muito escuras que se colocam entre a criatura e o Criador.
É uma espécie de véu que encobre Deus e as demais realidades. Isso infelicita
muita gente porque os priva de Deus -- sem o qual a alma geme o tempo todo. É
mais fácil e menos complicado crer em Deus do que não crer nele. No entanto,
essa nuvem ou esse véu esconde do homem aquele por quem ele aspira sem saber.
Como entender a criação sem o Criador? Como entender a beleza, a ordem, a
majestade, a funcionalidade, a imensidão das coisas criadas sem considerar a
existência de Deus?
Como não crer em Deus se não há um povo sequer sem religião, em qualquer tempo
e em qualquer lugar? Como não crer em Deus se até hoje o secularismo, o
materialismo, o agnosticismo, o ateísmo e as ideologias, em separado ou todos
juntos, não conseguiram apagar da mente humana a ideia de Deus? Como não crer
em Deus se os escândalos, a perseguição e as guerras religiosas não foram
suficientes para desacreditá-lo por completo? Como não crer em Deus diante do
impasse da morte física e do mistério que a envolve?
O céu fechado não diz respeito apenas à incredulidade. Refere-se também à
recusa em tratar Deus como Deus. Só depois de sujeitar-se resoluta e
alegremente à soberania de Deus é que o ser humano pode exclamar: “Eu estou
vendo o céu aberto!”
Não podemos ser ingênuos. Enquanto alguns evangelizam, outros “desevangelizam”.
A arte de atrapalhar a caminhada para o céu aberto existe. Jesus condenou
aqueles que não entram “nem deixam que
entrem os que estão querendo entrar” (Mt 23.13, NTLH).
A parábola do semeador diz que existe de fato um ladrão de semente: as aves do
céu costumam comer as sementes do evangelho lançadas no coração humano,
impedindo que elas sequer germinem (Mt 13.4, 19).
Os homens não podem crer porque, segundo Paulo, “o deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para que não
vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Co
4.4).
Todavia, a situação não é irreversível, pois os que querem sair da
escuridão que os envolve e entrar no céu aberto podem e devem contar com a
graça de Deus. Porque
“esse véu só é tirado quando a pessoa se
une com Cristo” (2Co 3.14, NTLH)!
Revista
Ultimato 329, março de 2011
Por
Litrazini
Graça
e Paz
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