Pois quem quiser salvar a sua vida, a
perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho, a
salvará. (Marcos
8.35)
Como
esse versículo fala de salvarmos e perdermos a nossa vida, eu costumava pensar
que ele se referia especificamente aos mártires cristãos que, ao morrerem por
Cristo, entravam na vida eterna.
Embora
o versículo possa incluir uma referência a martírio, agora vejo que Jesus tinha
uma aplicação muito mais ampla em mente do que essa. A linguagem indica isso. A
palavra traduzida por “vida”, psuche, quer dizer “alma” ou “eu”. Na
verdade, Lucas transmite a declaração de Jesus com o reflexivo simples: “Pois que adianta ao homem ganhar o mundo
inteiro, e perder-se ou destruir a si mesmo?” (Lc 9.25).
Alguém
poderia talvez parafrasear o epigrama favorito de Jesus, que ele parece ter
usado em vários contextos diferentes, desta maneira: “Se você insistir em
agarrar-se a si mesmo, e recusar abrir mão de si, e determinar viver por si
mesmo, você se perderá. Esse é o caminho da morte, não o caminho da vida. Mas,
se você estiver disposto a perder-se, a entregar-se em amor ao serviço do
evangelho, então, no momento de completo abandono, quando pensar que perdeu
tudo, os milagres acontecerão, e você encontrará a si mesmo”.
Em
anos recentes, várias escolas de psicologia têm desenvolvido essa posição que
enfatiza a autopercepção. As palavras soam promissoras a ouvidos cristãos,
até que nos lembremos de que, segundo Jesus, o único caminho para a
autodescoberta é o da autonegação, e o único caminho para viver é morrer para o
nosso egoísmo.
Em
dois epigramas semelhantes, Jesus usou linguagem comercial — a linguagem do
lucro, do prejuízo e da troca. Ele fez duas perguntas retóricas, que
permaneceram não-respondidas.
Primeira:
Que proveito há em se ganhar o mundo inteiro (toda a riqueza, o poder e a fama
que ele oferece) e perder a si mesmo?
Segunda:
O que alguém ganharia em troca de si mesmo?
Ambas
as perguntas enfatizam o valor infinito do eu em contraste com o valor do
mundo. Por um lado, é impossível ganhar o mundo inteiro. Por outro, se fosse,
isso não seria algo duradouro, e, conquanto durasse, não traria satisfação.
E disse-lhe um da multidão: Mestre, dize
a meu irmão que reparta comigo a herança.
Mas ele lhe disse: Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós? …
E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores,
e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a minha
alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe
e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que
tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e
não é rico para com Deus. Lucas
12.13-21
Retirado
de A Bíblia Toda, o Ano Todo [John Stott]. Editora Ultimato.
Por
Litrazini
Graça
e Paz
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