Jesus começa sua exposição no monte
dizendo: “Bem-aventurados os humildes de
espírito, porque deles é o reino dos céus.” (Mateus 5.2) A humildade
ou “pobreza de espírito” como é traduzida em outras versões da Bíblia, não se
refere à pobreza material
R.N. Champlin um dos maiores interpretes do
Novo Testamento faz uma importante observação: Ainda que Jesus deva ter
proferido essas palavras a pessoas reais e literalmente pobres, espezinhados
sob a autoridade de Roma e desprezados pelos próprios líderes religiosos,
entretanto, a sua ligação é de natureza essencialmente espiritual.[1]
Martyn Lloyd-Jones um dos maiores
expositores bíblicos do século XX reforça nossa interpretação: Um homem pobre
não está mais próximo do reino dos céus do que um homem rico, se é que estamos
falando deles como homens naturais. Não há mérito nem vantagem na pobreza. A
pobreza não serve de garantia da espiritualidade. Assim sendo, é patente que
essa passagem não pode estar ensinando tal conceito.[2]
Então quem são os “humildes de
espírito”? Eles são os que reconhecem de coração ser “pobres” no sentido de não
poderem realizar nenhum bem sem a assistência divina e que não têm nenhum poder
em si mesmos que os ajude a fazer o que Deus requer deles. O reino dos
céus a estes pertence, pois deste reino os orgulhosos por sua
autossuficiência são inevitavelmente excluídos. [3]
Ser humilde de espírito é se colocar na
total e exclusiva dependência de Deus. Precisamos deixar de lado a
autoconfiança e dependemos mais de Deus. Quando esse ensinamento é praticado, a
jactância em nosso ego cede lugar à gratidão eterna a Deus, fazendo-nos
verdadeiros discípulos do Senhor Jesus Cristo. Pois, um cidadão do reino dos
céus é reconhecido por ter essa virtude.
Martyn Lloyd-Jones conta que em certa
oportunidade foi convidado a ministrar em uma cidadezinha do interior, e ao
chegar à estação de trem um diácono estava a sua espera. Após quase que
arrancar as malas de sua mão disse: – sou um diácono da igreja, não sou nada,
sirvo apenas para carregar bagagens. Lloyd-Jones diz que ele disse essas
palavras com o intuito de deixar bem claro que o mesmo era um cristão humilde.
Quando uma pessoa põe em pratica o preceito da humildade de
espírito não faz alarde para que seus pares vejam essa virtude em si.
Entretanto, é percebida através de um testemunho alheio sem a influência da
autopromoção daquele suposto “humilde de espírito”.
Nesse sentido, observa Hernandes Dias
Lopes: “Normalmente, quem tenta vender uma imagem de modéstia e humildade,
esconde atrás dessa máscara uma personalidade altiva, soberba e valiosa.” [4]
Portanto, a humildade consiste na negação da autopromoção e no reconhecimento
autônomo de outrem.
Outra importante lição que podemos retirar
deste preceito divino: presente à humildade – ausente à soberba. Os humildes de
espírito além de viver uma vida ausente de soberba, sentem repulsa deste
sentimento sorrateiro. Nada mais repulsivo do que o comportamento de uma pessoa
soberba e jactanciosa.
O sábio Salomão já exteriorizava seu
pensamento sobre os soberbos: “A soberba
precede a destruição, e a altivez do espírito precede a queda. A soberba do
homem o abaterá; mas o humilde de espírito obterá honra.” (Provérbios
16.18, 29.23) Devemos fazer diferente: humilhar-nos sob a poderosa mão de Deus,
para que ele, em seu tempo oportuno nos exalte. (1 Pedro 5.6)
Mas como observar esta beatitude? A única
maneira de alguém tornar-se “humilde de espírito” é voltando os olhos para
Deus.[5] Que Deus seja o centro em nossa busca de sermos “humildes de
espírito”. Jean-Jacques Rousseau estava enganado quando disse que o homem é
essencialmente bom. O ensinamento bíblico é que o homem é essencialmente mal, e
suas faculdades todas foram afetadas pelo pecado. Por isso, o homem precisa de
Deus para se tornar um ser melhor através de uma mudança em seu interior.
Portanto, encontramos a verdadeira
felicidade nos ensinamentos do Senhor Jesus Cristo. E somos
verdadeiros “humildes de espírito“ quando deixamos de lado a nossa
rebeldia e colocamos em prática os seus preceitos.
1 CHAMPLIN, Russell
Norman, O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo.
Volume 1. Editora Hagnos. São Paulo, SP 2014: p. 301.
2 LLOYD-JONES, Martyn, Estudos
no Sermão do Monte. Editora Fiel. São José dos Campos, SP 2013: p. 38
3 TASKER, R.V.G, Mateus Introdução e
Comentário. Editora Vida Nova. São Paulo, SP 1999: p. 49.
4 LOPES, Hernandes Dias, Removendo
Máscaras. Editora Hagnos. São Paulo, SP 2004: p. 53.
5 LLOYD-JONES, Martyn, Estudos no
Sermão do Monte. Editora Fiel. São José dos Campos, SP 2013: p. 46.
Moisés Soares
Por Litrazini
Graça e Paz
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