O
nome vem do grego apocryphon, “oculto”, “difícil de entender”. Esses evangelhos
são geralmente classificados em narrativas da infância de Jesus, narrativas da
vida e da paixão de Jesus, coleção de ditos de Jesus e diálogos de Jesus.
As
narrativas da infância mais conhecida são o Proto-Evangelho de Tiago, Evangelho
de Tomé o Israelita, o Livro da Infância do Salvador, a História de José, o
Carpinteiro, o Evangelho Árabe da Infância, a história de José e Asenate e o
Evangelho Pseudo-Mateus da Infância. Entre as narrativas da vida ou paixão de
Cristo mais importantes se destacam o Evangelho de Pedro, o Evangelho de
Nicodemus, o Evangelho dos Nazarenos, o Evangelho dos Hebreus, o Evangelho dos
Ebionitas e o Evangelho de Gamaliel.
Existem
apenas dois que se enquadram na categoria de coleção de ditos de Jesus, o
Evangelho de Tomé e o suposto documento Q (quelle, “fonte” em alemão), do qual
não se tem prova concreta da existência. Na categoria de diálogos de Jesus com
outras pessoas e revelações que ele fez em secreto mencionamos o Diálogo com o
Salvador e o Evangelho de Bartolomeu.
Essas
obras são chamadas de evangelhos apócrifos por que não são considerados como
obras genuínas, produzidas pelos apóstolos ou pelos supostos autores. Além
disso, pretendem transmitir um conhecimento esotérico, oculto, além daquele
conhecimento dos apóstolos. Em grande parte, esses evangelhos foram escritos
por autores gnósticos com o propósito de difundirem as suas ideias no meio da
igreja, usando para isso a autoridade dos evangelhos canônicos e dos apóstolos.
Alguns deles foram encontrados século passado em Nag Hammadi, norte do Egito.
O
Proto-evangelho de Tiago, por exemplo, escrito no século II, que descreve o
nascimento e a infância de Jesus e a juventude da Virgem Maria, é tipicamente
uma tentativa de satisfazer à curiosidade popular em torno de coisas não
mencionadas nos evangelhos canônicos. A teologia desse "evangelho" é
a de um docetismo popular: Jesus tem um corpo não sujeito às leis do espaço e
do tempo. O escrito não tem valor como fonte histórica sobre Jesus.
Outro
exemplo é o Evangelho da Verdade. Esse não é um evangelho no sentido costumeiro
da palavra; é antes uma meditação, uma espécie de sermão sobre a redenção pelo
conhecimento (gnosis) de Deus. É atribuído ao gnóstico Valentino, que viveu em
meados do século II e por conseguinte, não ajuda em nada a pesquisa sobre o
Jesus histórico.
Na
mesma linha vai o Evangelho de Filipe, escrito antes de 350. É, evidentemente,
uma compilação de materiais mais antigos. O texto causou certo sensacionalismo
quando da sua publicação, porque sugere uma relação amorosa entre Jesus e Maria
Madalena.
O
Evangelho de Pedro – um fragmento que se conservou – descreve o processo contra
Jesus, sua execução e sua ressurreição. Sua cristologia é a do docetismo: aquele
que sofre e morre é apenas uma aparição do verdadeiro Jesus, que é divino e por
isso não pode sofrer e morrer. Conforme esse evangelho, o corpo de Jesus se
volatiliza na cruz antes de subir ao céu.
É
preciso dizer que existem vários destes evangelhos apócrifos que foram
compostos por autores cristãos desconhecidos, não gnósticos, e que aparentam
refletir um tipo de cristianismo popular marginal. A maior parte deles pretende
suprir a falta de informação histórica nos evangelhos canônicos, fornecendo detalhes
sobre a infância de Jesus, diálogos dele com os apóstolos, informações sobre
Maria e demais personagens que aparecem nos evangelhos tradicionais.
Em
alguns casos, parece que foram escritos para defender doutrinas não apostólicas
e que estavam começando a ganhar corpo dentro do Cristianismo, como por
exemplo, o conceito de que Maria é mãe de Deus e medianeira. O Proto-Evangelho
de Tiago, já do séc. III, explica porque Maria foi a escolhida: por sua
virgindade e santidade, e a defende como mãe de Deus e medianeira.
Alguns
contém exemplos morais não recomendáveis. Por exemplo, o Evangelho de Tomé, o
Israelita, narra diversos episódios em que o menino Jesus amaldiçoa e mata quem
fica em seu caminho. Quase todos são recheados de histórias lendárias e bobas,
como o Evangelho de Nicodemus, que narra como José de Arimatéia, Nicodemus e os
guardas do sepulcro se tornaram testemunhas da ressurreição de Jesus. É um
livro cheio de lendas, fantasias e histórias fantásticas.
Os
evangelhos apócrifos usaram diversas fontes em sua composição: o Antigo
Testamento, os próprios evangelhos canônicos e as cartas de Paulo. Usaram
também tradições cristãs extra-canônicas, de origem desconhecida e suas
próprias idéias e conceitos.
Augustus
Nicodemus Lopes
Transcrito
Por Litrazini
Graça
e Paz
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