1. Quando a
nuvem cobriu a tenda da congregação
A
nuvem do Senhor esteve com o povo desde a saída do Egito (Êx 13.21-22), e
sempre se colocava à porta da antiga tenda do encontro fora e longe do arraial,
a partir da qual o Senhor falava com Moisés (Êx 33.7-11). Mas esta nuvem trouxe
uma glória especial para o meio do arraial dos hebreus peregrinos quando o
tabernáculo fora erguido entre as tribos de Israel, menos de dois anos depois
de haverem saído do Egito.
Como
esta escrito:
“Então a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do Senhor
encheu o tabernáculo; de maneira que Moisés não podia entrar na tenda da
congregação, porquanto a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do Senhor
enchia o tabernáculo” (Êx
40.34,35).
É
curioso notar a semelhança entre este relato referente ao tabernáculo com o
registro da inauguração do templo construído por Salomão:
“E acabando Salomão de orar, desceu o fogo do céu, e consumiu o
holocausto e os sacrifícios; e a glória do SENHOR encheu a casa. E os
sacerdotes não podiam entrar na casa do Senhor, porque a glória do Senhor tinha
enchido a casa do Senhor” (2Cr 7.1,2).
Embora
não se mencione mais a nuvem neste episódio (ao que tudo indica ela já não mais
estava sobre Israel em caráter permanente desde os dias em que o povo se
assentara em Canaã), há a menção da glória do Senhor preenchendo todo o
ambiente e de tal modo irradiante que nem mesmo as autoridades religiosas
podiam adentrar ao recinto sagrado.
2. A GLÓRIA
DE SUA PRESENÇA
Na
nuvem que pairou sobre o tabernáculo estava a “kabod Yavé”, ou seja, a glória do Senhor revestindo e preenchendo o
santuário portátil que acabara de ser construído! Essa glória do Senhor, que no
hebraico bíblico é kabod (e no grego neotestamentário é doxa),
mas a que a literatura judaica e cristã tem feito costumeira menção como Shekinah,
é o fulgor ou esplendor da Presença e da atuação divina.
Richard
Gaffin destaca que esta glória divina “geralmente
está ligada ao fenômeno da luz ou fogo, às vezes com brilho irresistível e
intensidade insuportável, coberta por uma nuvem”. Não à toa os poetas de Israel costumam
dizer: “Pelo
resplendor da sua presença brasas de fogo se acenderam” (2Sm 22.13; Sl
18.12)
Ainda
segundo Gaffin,
a glória de Deus é sua presença manifesta que,
sem nenhuma mediação, destruirá suas criaturas, mas que permite expressões de
mediação que envolvem uma comunhão mais íntima com ele. No NT, Jesus Cristo é a
expressão final e permanente da glória divina (cf. Jo 1.14; 2Co 3.13,14). (…)
Nele a revelação da glória divina encontrou sua máxima expressão. Vista por
Isaías (Jo 12.41), ela é marcada principalmente pela “graça e verdade” em
comparação com a revelação manifestada por Moisés (1.17; cf. 7.18). Dessa
maneira, os milagres de Jesus manifestam “sua glória” (2.11) como “a glória de
Deus” (11.4,40). (…) Cristo é o auge da revelação da glória de Deus. a sua
glória mediada pelo Espírito é a glória da nova aliança (2Co 3.3 – 4.6).
Desse
modo, é interessante notar que ainda que se tratasse de uma teofania
(manifestação de Deus), a nuvem servia para atenuar o fulgor da manifestação, a
fim de que os homens ao vê-la não viessem a ser aniquilados pelo peso da glória
de Deus. Afinal, “homem nenhum verá a
minha face, e viverá”, diz o Senhor (Êx 33.20).
Assim
entendemos também um dos propósitos da encarnação do Verbo divino; é que ao
esvaziar-se de sua pujante glória, ele pode, na carne, aproximar-se de suas
criaturas, especialmente do homem pecador e miserável, para restabelecer-lhes a
plena comunhão com céu. Se Isaías temeu pela própria vida apenas num vislumbre
da glória irradiante do Senhor (Is 6.5), e se o apóstolo João caiu como morto
aos seus pés diante da visão do Cristo glorificado e glorioso (Ap 1.10-15),
quem poderia subsistir diante dos raios de sua glória infinita? Nós não
suportamos nem contemplar o sol do meio dia, que dirá Aquele diante de quem o
sol e as estrelas perdem o seu resplendor (Jl 3.14,15)?
3. “GLÓRIA”
NO HEBRAICO E NO ARAMAICO
Popularmente
tem se ouvido tanto pregadores como cantores fazerem referência à glória de
Deus em sua expressão máxima como sendo a
Shekinah de Deus. Como
já dissemos, isto também é costumeiro na literatura cristã, mesmo em obras
acadêmicas. É sabido que a palavra shekinah não existe nos
textos originais bíblicos, e também nota-se certo abuso no uso da mesma.
Infelizmente qualquer “animação” na igreja que provoque arrepio de pelos já é
tida como a manifestação da Shekinah.
Tem-se
banalizado a referência à glória divina. Não precisamos ser tão rigorosos
quanto os judeus místicos que, entre muitas coisas, evitaram mencionar a kabod Yavé,
mas deveríamos sim demonstrar mais temor e tremor ao mencionar a glória divina
como manifesta visivelmente em esplendor!
Se
devemos oferecer a Deus um “culto racional” (Rm 12.1) e fazer tudo com ordem e
decência (1Co 14.40), então precisamos saber quem Deus é e o que é a sua
glória, para lhe oferecermos uma adoração genuína, “em espírito e em verdade”
(Jo 4.23,24). Como os sacerdotes que ministravam no tabernáculo, precisamos
descalçar os nossos pés ante a majestade divina!
Tiago Rosas
Por
Litrazini
Graça e
Paz
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