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quinta-feira, 4 de julho de 2019

A NUVEM DE GLÓRIA


1. Quando a nuvem cobriu a tenda da congregação
A nuvem do Senhor esteve com o povo desde a saída do Egito (Êx 13.21-22), e sempre se colocava à porta da antiga tenda do encontro fora e longe do arraial, a partir da qual o Senhor falava com Moisés (Êx 33.7-11). Mas esta nuvem trouxe uma glória especial para o meio do arraial dos hebreus peregrinos quando o tabernáculo fora erguido entre as tribos de Israel, menos de dois anos depois de haverem saído do Egito.

Como esta escrito:
“Então a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo; de maneira que Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porquanto a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo” (Êx 40.34,35).

É curioso notar a semelhança entre este relato referente ao tabernáculo com o registro da inauguração do templo construído por Salomão:
“E acabando Salomão de orar, desceu o fogo do céu, e consumiu o holocausto e os sacrifícios; e a glória do SENHOR encheu a casa. E os sacerdotes não podiam entrar na casa do Senhor, porque a glória do Senhor tinha enchido a casa do Senhor” (2Cr 7.1,2).

Embora não se mencione mais a nuvem neste episódio (ao que tudo indica ela já não mais estava sobre Israel em caráter permanente desde os dias em que o povo se assentara em Canaã), há a menção da glória do Senhor preenchendo todo o ambiente e de tal modo irradiante que nem mesmo as autoridades religiosas podiam adentrar ao recinto sagrado.

2. A GLÓRIA DE SUA PRESENÇA
Na nuvem que pairou sobre o tabernáculo estava a “kabod Yavé”, ou seja, a glória do Senhor revestindo e preenchendo o santuário portátil que acabara de ser construído! Essa glória do Senhor, que no hebraico bíblico é kabod (e no grego neotestamentário é doxa), mas a que a literatura judaica e cristã tem feito costumeira menção como Shekinah, é o fulgor ou esplendor da Presença e da atuação divina.

Richard Gaffin destaca que esta glória divina “geralmente está ligada ao fenômeno da luz ou fogo, às vezes com brilho irresistível e intensidade insuportável, coberta por uma nuvem”. Não à toa os poetas de Israel costumam dizer: Pelo resplendor da sua presença brasas de fogo se acenderam (2Sm 22.13; Sl 18.12)

Ainda segundo Gaffin,
a glória de Deus é sua presença manifesta que, sem nenhuma mediação, destruirá suas criaturas, mas que permite expressões de mediação que envolvem uma comunhão mais íntima com ele. No NT, Jesus Cristo é a expressão final e permanente da glória divina (cf. Jo 1.14; 2Co 3.13,14). (…) Nele a revelação da glória divina encontrou sua máxima expressão. Vista por Isaías (Jo 12.41), ela é marcada principalmente pela “graça e verdade” em comparação com a revelação manifestada por Moisés (1.17; cf. 7.18). Dessa maneira, os milagres de Jesus manifestam “sua glória” (2.11) como “a glória de Deus” (11.4,40). (…) Cristo é o auge da revelação da glória de Deus. a sua glória mediada pelo Espírito é a glória da nova aliança (2Co 3.3 – 4.6). 

Desse modo, é interessante notar que ainda que se tratasse de uma teofania (manifestação de Deus), a nuvem servia para atenuar o fulgor da manifestação, a fim de que os homens ao vê-la não viessem a ser aniquilados pelo peso da glória de Deus. Afinal, “homem nenhum verá a minha face, e viverá”, diz o Senhor (Êx 33.20).

Assim entendemos também um dos propósitos da encarnação do Verbo divino; é que ao esvaziar-se de sua pujante glória, ele pode, na carne, aproximar-se de suas criaturas, especialmente do homem pecador e miserável, para restabelecer-lhes a plena comunhão com céu. Se Isaías temeu pela própria vida apenas num vislumbre da glória irradiante do Senhor (Is 6.5), e se o apóstolo João caiu como morto aos seus pés diante da visão do Cristo glorificado e glorioso (Ap 1.10-15), quem poderia subsistir diante dos raios de sua glória infinita? Nós não suportamos nem contemplar o sol do meio dia, que dirá Aquele diante de quem o sol e as estrelas perdem o seu resplendor (Jl 3.14,15)?

3. “GLÓRIA” NO HEBRAICO E NO ARAMAICO
Popularmente tem se ouvido tanto pregadores como cantores fazerem referência à glória de Deus em sua expressão máxima como sendo a Shekinah de Deus. Como já dissemos, isto também é costumeiro na literatura cristã, mesmo em obras acadêmicas. É sabido que a palavra shekinah não existe nos textos originais bíblicos, e também nota-se certo abuso no uso da mesma. Infelizmente qualquer “animação” na igreja que provoque arrepio de pelos já é tida como a manifestação da Shekinah.

Tem-se banalizado a referência à glória divina. Não precisamos ser tão rigorosos quanto os judeus místicos que, entre muitas coisas, evitaram mencionar a kabod Yavé, mas deveríamos sim demonstrar mais temor e tremor ao mencionar a glória divina como manifesta visivelmente em esplendor!

Se devemos oferecer a Deus um “culto racional” (Rm 12.1) e fazer tudo com ordem e decência (1Co 14.40), então precisamos saber quem Deus é e o que é a sua glória, para lhe oferecermos uma adoração genuína, “em espírito e em verdade” (Jo 4.23,24). Como os sacerdotes que ministravam no tabernáculo, precisamos descalçar os nossos pés ante a majestade divina!

Tiago Rosas

Por Litrazini
Graça e Paz

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