O evangelho
“Este meu filho estava morto e voltou à vida; estava
perdido e foi achado”. E começaram a festejar o seu regresso. (Lucas 15.24)
Lucas 15 deve com certeza estar entre os capítulos mais conhecidos e amados da
Bíblia, porque consiste nas três parábolas dos achados e perdidos — a da ovelha
perdida, da moeda perdida e do filho perdido. Elas têm sido interpretadas de
diferentes maneiras, e eu devo deixar que meus leitores julguem se minha ênfase
sobre duas verdades é legítima ou não. Iremos refletir sobre o evangelho hoje e
sobre missão amanhã.
A parábola do filho perdido nos dá uma descrição vívida da perdição humana. Ela
é a autobiografia de todos nós. O filho fez uma deliberada declaração de
independência. Exigir sua parte na herança foi o equivalente a desejar a morte
de seu pai. Na terra distante, então, sua vontade própria degenerou em
autoindulgência. Seu estilo de vida se tornou extravagante e imoral. E quando a
fome chegou, ele se rebaixou a ponto de alimentar porcos (algo nojento para os
judeus). Ninguém levantou nem sequer um dedo para ajudá-lo. Ele estava falido,
faminto e só.
Enquanto isso, o amor de seu pai por ele nunca vacilou. Ele sentia falta do
filho e ansiava por seu retorno. Isso é graça, a saber, amor imerecido e não-
solicitado. Além disso, o amor de Deus sofre por nós.
Alguns críticos
liberais argumentam que na parábola o pai não correu riscos e não sentiu dor.
Muçulmanos também mencionam a parábola e insistem em que o jovem foi salvo sem
um Salvador, pois a parábola ensina perdão sem propiciação. No entanto, o Dr.
Kenneth Bailey, um especialista na cultura do Oriente Médio, explica em The
Cross and the Prodigal [A cruz e o pródigo] o valor da parábola. Toda a vila
teria sabido que o filho estava em desgraça, merecendo ser punido. Mas, em vez
de infligir sofrimento a seu filho, o pai suporta, ele mesmo, o sofrimento.
Um homem de sua idade
e posição sempre caminhava com passos lentos e dignos, e nunca corria a parte
alguma. No entanto, lá está ele correndo pela estrada, expondo-se ao ridículo
diante de toda a vila, e recebendo sobre si a vergonha e a humilhação pelo
retorno do filho. O pai descendo e saindo sugere a encarnação.
O espetáculo
humilhante na rua da vila sugere o significado da cruz.
Para saber mais: Lucas 15.11-24
A missão
Todos os publicanos e
“pecadores” estavam se reunindo para ouvi-lo. Mas os fariseus... o criticavam:
“Este homem recebe pecadores e come com
eles”. Lucas 15.1-2
O próprio comentário editorial de Lucas, descrevendo o contexto no qual as três
parábolas são contadas é, na maioria das vezes, desprezado. Os publicanos eram
repudiados por dois motivos. Porque colaboravam com a odiada ocupação romana
(ou, na Galileia, trabalhavam para Herodes Antipas) e porque eram normalmente
culpados de extorsão.
O termo pecadores,
por outro lado, era usado pelos fariseus para insultar as pessoas comuns,
ignorantes da lei. Os fariseus discriminavam ambos os grupos. Assim, quando
Jesus se associou a eles, sentiram-se ultrajados. “Este homem recebe pecadores”, diziam eles horrorizados. Mas Lucas
registra isso com aprovação e até mesmo admiração. Assim deveríamos nós fazer.
De fato, pecadores são as únicas pessoas que Jesus acolhe. Se não acolhesse,
não haveria esperança para nós!
Jesus contou suas três parábolas dos achados e perdidos a fim de ilustrar a
diferença fundamental entre ele e os fariseus. Ele recebeu pecadores; eles se
opunham a eles e os rejeitavam. Tinham uma noção falsa de santidade. Pensavam
que seriam contaminados pelo contato, de modo que mantinham distância. Jesus,
no entanto, confraternizava com eles livremente e era chamado de “amigo de publicanos e ‘pecadores’” (Mt
11.19). Se os fariseus vissem uma prostituta se aproximando, recolhiam suas
vestes ao redor de si e se esquivavam dela, mas, quando uma prostituta se
aproximava de Jesus, ele não se esquivava e aceitava a sua devoção.
Então, a questão que
se coloca diante de nós é se nos assemelhamos a Jesus ou aos fariseus, se
evitamos o contato com pecadores ou buscamos por eles. Não podemos compreender
mal isso. O fato de Jesus ter acolhido a pecadores não significa que tenha
justificado seus pecados. Ao contrário, todas as três parábolas terminam com
uma nota de arrependimento e de celebração. Jesus rejeitou os extremos opostos
do farisaísmo e do comprometimento. Há alegria no céu, disse ele, quando um
pecador se arrepende.
Porque esse “homem recebe pecadores”, devemos acolhê-los também. A missão
autêntica é impossível sem isso.
Para saber mais: Lucas 15.1-10
Retirado de “A Bíblia Toda, O Ano Todo”
(John Stott). Editora
Ultimato, 2007.
Por Litrazini
Graça e Paz
Gostei do Blog.
ResponderExcluirPrincipalmente dos textos do autor.