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sábado, 12 de outubro de 2013

Viver é a arte de não desistir de pedalar apesar dos tombos

Há aspectos da vida que são como andar de bicicleta. Primeiro porque só se aprende tentando. Por mais que sejamos preparados para algumas situações, apenas quando as estamos vivendo é que descobrimos o que fazer e percebemos que assim como no caso das leis da física, responsáveis por manter em movimento a bicicleta, também há leis que regem cada situação de nossa vida e essas leis estão dentro de nós.

Algumas pessoas têm contato com os livros, outras não, algumas aprendem na escola os cálculos que elegantemente provam sua existência, outras não, mas tais leis estão dentro de todos, apenas esperando que sejam testadas na prática.

Ninguém está pronto para andar de bicicleta, não importa o quanto domine a teoria, até que suba nela e dê as primeiras pedaladas. Quem esperar resolver todas as suas questões para começar ou recomeçar, não vai fazer nunca.

A vida se compara a andar de bicicleta, também porque geralmente não vemos uma criança interessada, desistir quando toma os primeiros tombos. Por mais machucada que fique, ela mal vê a hora de subir novamente na magrela e seguir a aventura do equilíbrio. A dor não a impede de continuar, porque assim que ela passa nós não temos mais a memória da dor, só do tombo, memória não sente a dor, é cicatriz, e por isso pode ser reprogramada.

Temos a capacidade de extrair algo de bom de cada tombo, chegando a transformar o que doeu numa história engraçada. Deveria ser assim em quase tudo de nossa vida, decepções e frustrações deveriam ser tratadas assim, doem na hora, mas não devem nos impedir de subir na vida e tentar novamente.

E quanto mais pedalamos, maior autonomia ganhamos. A prática associada ao tempo é implacável, tudo aquilo que fazemos com frequência se torna parte de nós mesmos. Bem no início, muitos precisam das rodinhas de apoio para manter a bicicleta fixa no ângulo correto, mas logo ela são dispensadas. Chega uma hora que nos sentimos seguros para tirar as mãos do guidão e começamos a fazer as primeiras estripulias, isso porque não nos basta dominar as técnicas do equilíbrio e da velocidade, queremos mesmo é nos divertir. O próximo passo é empinar a roda dianteira e alguns mais ousados passam a surfar, com um pé no guidão e outro no selim, descendo ladeiras íngremes. É assim, não se pode querer surfar na primeira vez, mas um dia nos sentiremos seguros para ir além dos limites.

Um problema é querer começar por onde se termina. Outro, é acreditar mais na autonomia da prática que nas leis que regem a experiência, é a arrogância que precede a queda.

Por fim, não há idade para aprender a andar de bicicleta, é necessário apenas vontade. Toda pessoa que resolve começar, se faz criança novamente, rejuvenesce a alma, nasce de novo. Nada mais proveitoso pra vida que começar algo novo, mesmo depois de sentir-se velho.

O que nos mantém vivos não é o que já aprendemos na vida, mas o que queremos aprender hoje, amanhã cedo. Todo ser humano que ousa aprender é digno de viver. Nada melhor que acordarmos um dia, talvez machucados pelas experiências já vividas, sentindo as dores do último tombo, mas vivermos uma epifania: “deixe-me ver, não sei andar de bicicleta, isso, vou aprender”.

Porque viver é a arte de não desistir de pedalar apesar dos tombos, é a arte de nunca considerar tarde demais para começar. As leis estão dentro de nós, também essa teimosia deliciosa de acreditar que vale a pena, de novo, com a fome de criança que cai, chora, levanta e sai pedalando enquanto arranca as casquinhas do que se tornarão suas mais orgulhosas cicatrizes.

Autoria: Alexandre Robles

Por Litrazini


Graça e Paz

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