Em
todo o contexto das Escrituras – Antigo e Novo Testamentos – há declarações
fortíssimas convergindo para uma só e soberana Verdade: Deus concebeu e
executou um fantástico Plano de Salvação, incluindo, potencialmente, a
humanidade inteira!
No
limitado, mas valioso espaço de que dispomos aqui, tomaremos, para comprovação
do que temos afirmado, algumas passagens de ambos os Testamentos:
• Ezequiel 18.23: “Desejaria eu, de
alguma maneira, a morte do ímpio? – diz o Senhor Jeová. Não desejo, antes, que
se converta dos seus caminhos e viva?”
•
Isaías 55.1,7: “Ó vós, todos os que
tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e
comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. [...].
Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pensamentos, e se
converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque
grandioso é em perdoar.”
•
Evangelho segundo João 3.16-17; 6.51: “Porque
Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o
seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse
salvo por ele. [...] Eu [Jesus] sou o pão que desceu do céu; se alguém comer
deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei
pela vida do mundo.”
•
Atos dos Apóstolos 10.34-35: “E abrindo
Pedro a boca, disse: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de
pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e obra o
que é justo.”
Prova insofismável de que Deus não privilegia alguns encontra-se no ministério
de Jesus Cristo, que é “a expressa
imagem da sua pessoa” (Hebreus, 1.3). Na verdade, sendo a revelação humana
do Ser espiritual de Deus, Jesus compadeceu-se das multidões, e não apenas de
alguns em meio à massa. Mateus escreveu: “E
saindo Jesus, viu uma grande multidão e, possuído de íntima compaixão para com
ela, curou os seus enfermos” (Mt 14.14). Confirmativamente, Marcos
registrou: “E Jesus, saindo, viu uma
grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm
pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6.34).
Importa
considerar-se que Deus não fez o homem como um robô, mas como um ser moral,
livre para escolher seus posicionamentos. Um ser inteligente, inserido num
contexto existencial regido por um princípio de responsabilidades, no contínuo
processo de causas e efeitos. Assim, pois, a salvação, provida graciosa e potencialmente
para todos, só se efetiva na vida daquele que a quiser; daquele que aceitar a
mínima condição requerida: crer, em forma de atitude, na absoluta eficácia do
Sacrifício que Jesus Cristo fez em seu favor, para a eterna absolvição de sua
alma diante do Tribunal de Deus. Está escrito:
• Evangelho segundo João 3.18,19,36:
“Quem crê nele [Jesus Cristo] não é condenado; mas quem não crê já está
condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação
é esta: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a
luz, porque as suas obras eram más. [...] Aquele que crê no Filho tem a vida
eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus
permanece sobre ele.”
Sobre a fundamentação bíblica que temos invocado, consideremos a seguinte
palavra do apóstolo Paulo aos Romanos: “E
sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam
a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. Porque os que dantes
conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a
fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a
estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que
justificou, a estes também glorificou” (Romanos, 8.28-30).
Reflitamos
sobre a afirmação “os que dantes
conheceu, também os predestinou”. O que se diz aí? Que a
predestinação é consequência de um pré-conhecimento. Trata-se,
pois, de uma “pré-visão”, e não de uma “pré-determinação”. Ou seja, em
sua onisciência, Deus teve conhecimento de todas as pessoas que iriam usar o
seu livre-arbítrio para aceitarem o Caminho da Salvação – Jesus Cristo –,
provido por Ele. Diante disso, alistou-as para serem chamadas,
justificadas e glorificadas. Assim, mediante a previsão, operou-se a prévia
destinação. Jesus foi claramente incisivo em seu ensinamento salvífico: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida.
Ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João, 14.6).
Entender
que Deus escolhe uns e rejeita outros, pura e simplesmente, porque é soberano –
é não discernir a santidade da soberania divina. Afinal, Deus, que condena a
acepção de pessoas, faria o que condena? Pois está escrito: “Mas, se fazeis acepção de pessoas,
cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como transgressores” (Tiago,
2.9).
Rejeitar-se
a idéia da predestinação fatalista é uma questão impositiva a todo cristão
sinceramente interessado pela Verdade das Escrituras.
Poder-se-á,
contudo, objetar: E as afirmações do apóstolo Paulo em sua epístola aos
Romanos, no trecho englobado pelos versículos 6 a 33 do capítulo 9? O que
fazer com a questão dos gêmeos Esaú e Jacó, e do endurecimento de Faraó, e dos
vasos para honra e para desonra?
Eis
a resposta:
O
mesmo Paulo, que faz as referidas colocações teológicas, é categórico em
afirmar, noutra epístola: “Porque isso é
bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens se
salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1Timóteo, 2.3-4).
O
que afirma Paulo? “Deus, nosso Salvador,
quer que todos os homens se salvem”. Todos os homens! E não uma
casta de privilegiados!
Paulinamente,
“que diremos, pois?” Sim, que diremos, pois, a estas coisas?
Com
sensatez e coerência, isto: se Paulo estivesse, no citado trecho de sua
epístola aos Romanos, defendendo a predestinação fatalista – aquela que acata a
idéia de que Deus escolhe uns e rejeita outros, porque é soberano – só haveria
uma forma de colocar a questão: Paulo estaria contradizendo-se e contrapondo-se
ao macrocontexto das Escrituras.
Conclusão: não é possível ser
essa a posição do Apóstolo. Na verdade, o que se tem aí é um daqueles
“pontos difíceis de entender” aos quais se refere o apóstolo Pedro, em sua
segunda epístola universal: “E tende por
salvação a longanimidade de nosso Senhor, como também o nosso amado irmão Paulo
vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, falando disto, como em
todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os
indoutos [...] torcem” (2 Pedro,
3.15-16).
Ora,
pontos difíceis, mas não impossíveis de entender! O que se requer, para
um entendimento correto dos tais pontos, particularmente deste que temos
abordado, é uma exegese douta, como diria Pedro, isto é, uma interpretação
sábia, dirigida pelo Espírito Santo, capaz, então, de atinar com o verdadeiro
sentido das afirmações paulinas; sentido respaldado pela coerência interna das
Escrituras.
E
aqui se faz oportuno lembrar uma sensata colocação de Agostinho, em “De
doctrina christiana”: qualquer interpretação feita de certa parte de um texto
poderá ser aceita se for confirmada por outra parte do mesmo texto, e deverá
ser rejeitada se a contradisser (apud ECO, Umberto. Interpretação e
superinterpretação, 2001).
Na
verdade, o que precisamos é discernir os dois sentidos bíblicos da questão
predestinista: a que se refere à salvação dos que, livremente, optaram por ela,
designados como os “dantes conhecidos por Deus” (Rm 8.28-30), e a que se refere
à missão confiada por Deus a alguns, em favor de outros ou dos outros. Esta
última, sim, consiste em escolha específica de Deus, distinguindo homens para a
execução de tarefas especiais em sua obra.
É
nesse segundo sentido, integrante do conceito de predestinação, nas Escrituras,
que se coloca, por exemplo, a palavra do Senhor, dirigida ao profeta Jeremias: “Assim veio a mim a palavra do Senhor,
dizendo: Antes que te formasse no ventre, te conheci; e antes que saísses da
madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta” (Jr 1.4-5).
É aqui, também, que se enquadra a declaração de Jesus a seus discípulos: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos
escolhi a vós; e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto
permaneça” (Jo 15.16).
Com
efeito, foram aqueles discípulos escolhidos para, à exceção de Judas
Iscariotes, estabelecerem os fundamentos da Igreja de Cristo na terra. E nisso
consistiu o fruto permanente da produção espiritual deles. Não se tratou, pois,
de uma escolha para a salvação, mas para o serviço na seara de Deus.
É
a Verdade o que temos buscado. Tão somente! E, sem a mínima pretensão,
disponibilizamos, aos que quiserem, o detalhado entendimento que julgamos ter
alcançado a respeito do assunto aqui exposto.
***
Maria
Helena Garrido Saddi, professora universitária, doutora em Letras. Membro da
Catedral Evangélica Hebrom. hgsaddi@gmail.com
Por
Moacir Neto
Graça
e Paz
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