Há
uma antiga parábola indiana de três cegos que encontraram um elefante que
permite ser tocado por eles. Um deles, segurando a tromba do elefante, afirma:
“Essa criatura é longa e flexível como uma cobra”. O outro, sentindo a largura
e grossura da perna, retruca: “Não, é o tronco de uma árvore”. O terceiro,
apalpando o lado do elefante, confirma convicto: “É larga e plana como uma
parede”. Na verdade, essa história não poderia ser contada por qualquer um
dos cegos, mas somente por aquele que contemplasse a cena.
Da
mesma forma cada um de nós conhece ou compreende apenas uma parte da realidade.
Quando se trata de verdade, ninguém enxerga o elefante por inteiro, nem tem uma
visão compreensiva do todo. Talvez nós, míopes e cegos como somos diante da
realidade, devamos nos ajudar uns aos outros a ouvir a Deus, juntando as
diversas partes do quebra-cabeça.
Na
espiritualidade cristã, não existe nada mais essencial que a fé! “Esta é a vitória que vence o mundo, a
nossa fé” (1 Jo 5,4). A fé é a mãe de todas as virtudes, a rainha-mãe de
todas as dádivas que nos foram dadas por Deus.
Outras
virtudes, presentes e dons como o amor, a esperança, a paz e a alegria são
filhos da fé e ajudam no crescimento e na transformação; mas pela fé somos
justificados perante Deus. Nem amor, justiça, boas obras, arrependimento,
pensamento positivo, cultos, campanhas, missão, ação social, nem a comunhão da
igreja justificam, mas sim a fé. Justificados,
pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, (Rm
5,1). A fé é a graça que Deus usa para nos salvar.
Além
disso, a fé é a autêntica energia espiritual que pulsa e dá vida à alma do
cristão. Quando Jesus advertiu Pedro: “Simão,
Simão, eis que Satanás vos pediu para vos peneirar como trigo; mas eu roguei
por ti, para que a tua fé não desfaleça” (Lc 22, 31-32). Nessa situação,
nosso Senhor declarou uma verdade central: Ele sabe que quando a fé se quebra,
os fundamentos da vida espiritual cedem e toda a estrutura da experiência
cristã perde a força e desmorona.
A fé
estrutura os pilares que fundamentam o caráter cristão; ela cobre seus
defeitos, protegendo-o dos dardos inflamados do diabo, como um poderoso escudo
militar (Ef 6,16). A fé de Pedro precisava de proteção. Daí o pedido de Cristo
que visava ao bem-estar do seu discípulo e ao fortalecimento de sua fé.
Em
sua segunda epístola, Pedro tem essa ideia em mente quando trata do crescimento
na graça como uma medida de segurança para a vida cristã: “E por isso mesmo, vós, empregando toda a diligência, acrescentai à
vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência a temperança, e à
temperança a paciência, e à paciência a piedade” (2 Pe 1,5-6). Pedro não
solicitou que seus leitores buscassem poder, influência, dons, competências,
virtudes ou obras, mas fé. A fé era o fundamento sobre o qual todas as outras
coisas estavam sendo construídas.
Nas
expressivas palavras do pregador Charles Spurgeon: “Fé é o fogo que consome o
sacrifício. A fé é a água que alimenta a raiz da piedade. Se você não tem fé,
todas as suas graças devem morrer. E na proporção em que aumenta a sua fé,
assim todas as suas virtudes serão reforçadas, não todos na mesma proporção,
mas todos em algum grau”. [1] A fé é a roda mestra, o agente principal, o eixo
central que põe em execução todos os sonhos e planos. Sentada no trono do
coração, a fé guia e sustenta todas as suas decisões. Fé é o timão que dá
direção ao barco da vida: é a inteligência da alma.
Portanto,
a fé é um elemento por demais precioso na formação do caráter do cristão. Jesus
é o caminho para Deus, mas fé é o caminho para Cristo. John Flavel, um pregador
presbiteriano inglês do século 17, descreveu a existência humana nas seguintes
palavras: “a alma é a vida do corpo; a fé é a vida da alma; Cristo é a vida da
fé”. [2]
Sabemos
que o amor é a principal graça no reino de Deus, mas enquanto estivermos aqui
neste mundo, o amor caminhará ao lado da fé. Mesmo que o amor represente a
coroação no céu, a fé será a graça que conquistará a terra. E embora o amor
tome posse da glória eterna, a fé lhe dará o título de posse a ela.
Precisamos
de fé, pois é uma ordenança divina indispensável, uma tremenda necessidade
pessoal e um conceito urgente e imprescindível para quem vive a realidade
contemporânea, complexa e cínica do século 21. A fé vê o invisível, crê no
incrível e recebe o impossível. A fé é preciosa aos olhos de Deus!
[2]
Joel Beeke, Puritan Reformed Spirituality, Evangelical Press, 2006, p. 383
Rubens
Muzio
Por Litrazini
Graça e Paz
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