Abraão e Moisés são objetos de revelação de duas questões opostas e
complementares que assolam todos aqueles que desejam a intimidade com Deus
Deus
chama Abraão para que deixe sua terra e sua parentela para seguir a uma terra
de prosperidade e abundância onde se estabeleceria como pai de uma grande
nação. Apesar de Sara, sua mulher, ser estéril, Deus promete a Abraão que sua
descendência seria tão numerosa quanto as estrelas do céu. Passados 25 anos a
promessa se cumpre no nascimento de Isaque, que Sara e Abraão tomam nos braços
como razão de ser de sua existência e semente de um futuro de prosperidade sem
fim.
O happy end entra em colapso quando Deus pede que Abraão ofereça seu
filho, seu único filho Isaque, em sacrifício. Matar o filho significaria perder a
razão de existir e arrancar a semente do futuro antes mesmo que ela brotasse.
Não haveria mais uma grande nação, e a primeira das estrelas sem conta seria
apagada deixando o céu vazio de luz e a alma de Abraão na mais densa escuridão.
Mas Abraão obedece em silêncio. Simplesmente levanta o cutelo sobre a garganta
de seu filho Isaque para imolá-lo em oferta a Deus, conforme havia sido
solicitado.
No momento último do ato sacrificial Abraão é interrompido por um anjo
que lhe ordena poupar a vida de seu filho: a disposição ao sacrifício valera
tanto quanto o sacrifício em si. Abraão e seu filho Isaque voltam para casa e deixam para
trás o Monte Moriá que passa para a história como o altar de um sacrifício que,
embora jamais consumado, catapultou Abraão do status de um homem temente a Deus
ao panteão de pai da fé, abençoando assim todas as famílias da terra.
Deus chama Moisés para que saia de sua terra e de sua parentela para
libertar e conduzir o povo, descência de Abraão, à terra prometida. Moisés reluta, mas é
convencido por Deus a aceitar a empreitada. A história segue uma trama jamais
imaginada nem mesmo pelo mais criativo dos roteiristas: enfrentamento de Faraó,
dez pragas sobre o Egito, abertura do Mar Vermelho para que o povo escravo siga
a pés enxutos rumo à liberdade e ao futuro prometido por Deus. Naquela
madrugada de saída do Egito, o sonho sonhado todas as noites durante pelo menos
cinco séculos se tornava realidade. Moisés à frente e seu povo atrás. Deus
sobre todos.
No
deserto, meio caminho da terra prometida, Deus, que falava com Moisés face a
face, como quem fala a um amigo, desabafa sua irritação para com o povo e
desiste de seguir viagem. Garante a Moisés que a escolta de um anjo responsável
por oferecer direção, proteção, e provisão. Deus garante o êxito do projeto,
mas nega sua companhia. Ou o Senhor vai conosco, ou ninguém arreda o pé daqui,
diz Moisés para Deus num ato de justificado atrevimento. Deus então se
compromete a acompanhar Moisés e o povo à terra da promessa, Canaã, terra de
leite e mel.
Abraão e Moisés são objetos de revelação de duas questões opostas e
complementares que assolam todos aqueles que desejam a intimidade com Deus. Ao pedir a Abraão que
sacrifique Isaque, Deus está perguntando: quero saber se você é capaz de viver
comigo e mais nada. Ao negar a Moisés sua companhia, mas garantir que nada mais
lhe faltaria, Deus está perguntando: quero saber se você é capaz de viver com
tudo, menos eu.
As duas respostas, de Abraão e Moisés, revelam que se é verdade que Deus
e mais nada é suficiente, não é menos verdadeiro que tudo, sem Deus, não é o
bastante.
ED
RENÉ KIVITZ
Por Litrazini
Graça
e Paz
Nenhum comentário:
Postar um comentário