“TUDO
O QUE É PROFANO É IMUNDO E QUE TUDO O QUE É SAGRADO É SANTO?”
Levando-se em consideração os aspectos
puramente linguísticos e dentro do contexto cúltico da religião judaico-cristã,
pode-se afirmar que a definição exigida pela pergunta depende do contexto em
que se encontram as palavras.
É interessante observar que a resposta para
o primeiro par de termos, aparentemente sinonímicos, “profano-imundo”, deve ser
dada na negativa. Isto porque, nem sempre o que é profano deve ser tomado por
imundo, já que em contextos diferentes o significado recai não necessariamente
em aspectos de pureza, mas de ordinariedade – de coisa comum – por exemplo, a
palavra Koinon.
Já o mesmo não pode ser dito do segundo par
de termos “sagrado-santo”, pois a própria definição do
termo hieros (consagrado) e “santo” (separado), exige que eles sejam
interpenetrantes. Sendo assim, tudo o que é sagrado deve possuir
necessariamente uma santidade.
Entretanto, os termos, “sagrado” e
“profano”, são categorias dicotômicas que servem como ferramentas teóricas à
Ciência da Religião, mas especialmente à antropologia e que pela abrangência
semântica não se condiciona em reducionismos.
Apesar das línguas originais bíblicas
trazerem palavras que expressem a dicotomia em suas variadas nuances, todavia,
ela foge à esfera puramente teológica e se difunde culturalmente em outras
esferas sociais.
“Sagrado” e “profano” ganham novos
significados nas Ciências da Religião. Apresentam-se enquanto categorias
teóricas religiosas para explicar o mundo sobrenatural em contraposição ao
mundo natural.
Dependendo do campo de pesquisa e da
plataforma teórica envolvida ele pode assumir diversos significados.
Há uma discussão muito interessante dos
críticos da fenomenologia da religião clássica sobre Rudolf Otto a respeito da
categoria explorada por ele em sua obra Das Heilige (O Sagrado)
quanto ao termo sagrado. O sagrado para Otto é ontológico e totalmente “Outro”,
abrangendo, mas não se esgotando no conceito judaico-cristão de Deus.
Já Émile Durkheim afirmava que “existe
religião tão logo o sagrado se distingue do profano” (1996, p.150). Aqui
Durkheim não trabalha o sagrado pelo seu aspecto metafísico, na verdade o
sagrado pode ser “puro” ou “impuro”. Tudo o que não pode ser sagrado está na
esfera do profano.
Para o antropólogo René Girard “É a
violência que constitui o verdadeiro coração e alma secreta do sagrado” (1998,
p.46). Sagrado para ele possui o significado de religião.
Em Ferraroti o sagrado não aparece
esgotar-se na religião institucionalizada que ele denomina de
“religião-de-igreja”. Para ele o sagrado se expressa de formas diversas,
inclusive na sociedade moderna.
Até aqui, com estes parcos e singelos
exemplos, tentei mostrar as várias nuances que o termo adquire nas teorias das
ciências da religião.
Apesar de o artigo ter-se desviado
sutilmente do propósito original – o teológico – é excitante pensar em uma
investigação em direção a definição do termo “sagrado” e “profano” dentro de
uma sociedade materialista e dessacralizada como a nossa. Fica aí a provocação.
Referências
DURKHEIM, È. As formas elementares da
vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
FERRAROTI, Franco. Una fede senza dogmi.
Laterza: Roma-Bari, 1990.
GIRARD, R. A Violência e o Sagrado.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
OTTO, R. O Sagrado. Lisboa: Edições
70, 2005.
Prof. Paulo Cristiano da Silva
Por Litrazini
Graça e Paz
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