O
cristianismo, hoje em dia, positivamente, cada vez se universaliza mais. Está
presente na maioria dos países, etnias e classes sociais, e sua força
missionária está em expansão. No entanto, o cristianismo atual tem de enfrentar
sérios desafios e obstáculos, tanto externos quanto internos.
Não
se pode menosprezar o desafio do Islã, que se expande, não aceita a laicidade
do Estado, a liberdade religiosa com igualdade perante a lei. Os Estados
islâmicos são espaços de restrição, discriminação e repressão ao cristianismo
missionário.
A
imigração a partir deles já afeta a cultura européia. O zelo expansionista
desses Estados, alimentado pelos petrodólares, é real e crescente. O
nacionalismo bramânico, na Índia, ou o budista, em Myanmar (ex-Birmânia),
também atestam o endurecimento das outras grandes religiões em relação à fé
cristã.
No
Ocidente — historicamente um espaço geopolítico do cristianismo — sofremos a
violenta devastação causada pelo secularismo. Assistimos à drástica redução do
número de freqüentadores dos cultos, à indiferença, ao materialismo prático
consumista e à negação de valores cristãos.
Uma
minoria de praticantes exerce uma religiosidade individualista e subjetiva, sem
impacto na vida cultural. Essa falha vem sendo preenchida por diversos tipos de
misticismo.
Internamente,
o cristianismo sofre de dois grandes males: o liberalismo e o neofundamentalismo.
O
liberalismo moderno — filho do racionalismo e neto do iluminismo — cede,
rapidamente, lugar ao liberalismo pós-moderno, ou revisionismo. A verdade não
mais é atingida apenas pela razão; simplesmente ela não pode ser atingida. Não
há verdade revelada; não há verdade objetiva e universal, mas apenas o
relativismo da verdade de cada um.
A
autoridade das Sagradas Escrituras e da tradição apostólica, o caráter único da
Igreja como agência do reino, e a unicidade de Jesus Cristo como Senhor e
Salvador são negados e combatidos. Portanto, morrer pela boca dos leões ou pela
mão dos gladiadores se torna algo exótico ou ridículo.
O
neofundamentalismo possui uma eclesiologia débil e equivocada, baseada na
sociologia e não na teologia. Fragmenta de forma trágica e interminável as
“denominações”, dilacerando o Corpo de Cristo — Igreja una, santa, católica e
apostólica — ao promover o espírito sectário e intolerante, o
antiintelectualismo, o legalismo, o moralismo, a irresponsabilidade social e
cívica, e a proliferação de distorções doutrinárias (e de usos e costumes).
Esses
males adoecem os membros da comunidade de fé, que deveria ser terapêutica e
agência de transformação histórica. A liderança da Igreja — rígida, autofágica,
ambiciosa, carreirista, narcisista, triunfalista — abandona os seus soldados
feridos, foge dos riscos. É incapaz de se unir, de expressar gestos de
solidariedade, ou de elaborar respostas adequadas aos desafios atuais.
Mea
culpa, mea maxima culpa . Que o Senhor da Igreja tenha piedade de nós. Que ele
purifique e reavive o seu Corpo, ilumine o nosso discernimento, a nossa
dependência do Espírito Santo, o nosso conhecimento e compromisso com a
Palavra, e aumente a nossa paixão missionária.
Que
faça, poderosamente, florescer entre nós uma ortodoxia com compaixão.
Revista
Ultimato - Ano XXXVIII n.º 297 - Novembro/Dezembro
Robinson
Cavalcanti
Por
Litrazini
Graça
e Paz
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