Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se
a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. (Marcos 8.34)
Parece-me
extraordinário que Jesus deixasse de se referir à sua cruz para se referir à
nossa cruz. De algum modo, ele já sabia que seria crucificado. Ele agora diz
que, se alguém quer segui-lo, deve tomar a sua cruz. Não podemos deixar de
observar o mesmo sinal de necessidade imperiosa.
O
que Jesus quis dizer?
De
acordo com H. B. Swete, em seu comentário sobre o Evangelho de Marcos, tomar a
cruz é “colocar-se na posição de um homem condenado a caminho de sua execução”.
Se
tivéssemos vivido na Palestina ocupada por Roma naqueles dias e víssemos um
homem carregando uma trave transversal ou patibulum, não precisaríamos
correr até ele e perguntar: “Com licença, mas o que você está fazendo?” Não,
nós o teríamos reconhecido de imediato como um criminoso condenado, porque os
romanos forçavam seus condenados à morte a carregar a própria cruz até o lugar
da crucificação.
Essa
foi a imagem que Jesus escolheu para ilustrar o significado da autonegação.
Precisamos
resgatar esse vocabulário para que ele não seja adulterado. Não devemos supor
que a autonegação seja abrir mão de luxos durante a Quaresma ou que “a minha
cruz” seja uma provação pessoal e dolorosa.
Sempre
corremos o risco de desvalorizar o discipulado cristão, como se ele nada mais
fosse que acrescentar uma camada fina de piedade à vida secular. Fure a camada
e lá estará, debaixo dela, o velho e mesmo pagão.
Não,
tornar-se e ser um cristão envolve uma mudança tão radical que nenhuma imagem
pode ilustrá-la à altura, exceto a morte e a ressurreição – morrer para a velha
vida, ou para o egoísmo, e ressuscitar para uma nova vida de santidade e de
amor.
Paulo
estava adaptando o vocabulário de Jesus quando escreveu: “Fui crucificado com Cristo” (Gl 2.20) e: “Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas
paixões e os seus desejos” (Gl 5.24).
Um
último pensamento: Lucas acrescentou o advérbio diariamente à
declaração de Jesus: “Se alguém quiser
acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e
siga-me” (Lc 9.23, grifo do autor).
De maneira que, irmãos, somos devedores,
não à carne para viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne,
morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. Porque
todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus. Romanos 8.12-14
Retirado
de A Bíblia Toda, o Ano Todo [John Stott]. Editora Ultimato
Por
Litrazini
Graça
e Paz
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