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domingo, 14 de agosto de 2016

A DOUTRINA DO DISCERNIMENTO

O termo “discernir”, do hebraico nākar e do grego diakrinō, quer dizer “distinção”, “separação”, “julgar”; isto é, “fazer distinção”, “fazer separação”. O termo hebraico aparece pela  primeira vez em Gênesis 27.23, no contexto em que Isaque é enganado por Rebeca e Jacó. O  vocábulo é traduzido por “não o conheceu” (ARC) ou “não o reconheceu” (ARA).

Na passagem em apreço, o termo significa literalmente “discernir algo por alto”. Contudo, outros vocábulos hebraicos traduzem o sentido considerado: sāpat (Êx 18.16); shama (2 Sm 14.17); yada (2 Sm 19.35); nakar (Ed 3.13), entre outros. Todos com o sentido que diz respeito à percepção, compreensão e julgamento (cf. Jó 6.30; Sl 19.12; Ez 44.23; Jn 4.11).

No grego do Novo Testamento, a palavra diakrinō aparece dezoito vezes com o sentido de “julgar”, “discernir”, “fazer distinção”, “separar”. O termo descreve tanto o discernimento das coisas naturais quanto das espirituais.

Nas páginas de o Novo Testamento o termo, ao que parece, é citado pela primeira vez em Mateus 16.3 (ARC) aludindo ao “discernimento” dos tempos e estações naturais. Todavia, o termo não se restringe apenas a essa observação, mas prolonga-se no versículo, pois a supressão do vocábulo na parte seguinte pressupõe o seu uso: “…sabeis diferençar a face do céu e não conheceis os sinais dos tempos?”. Portanto, há o uso combinado de ginōskete diakrinein, isto é, “sabeis discernir”, nas duas sentenças: “sabeis discernir a face do céus”; “não sabeis discernir os sinais dos tempos”. Confira, por exemplo, o texto da ARA “Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos?”.

No texto de 1 Coríntios 11.31, o vocábulo é usado em relação ao autojulgamento do crente: “Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos [heautous diekrinomen], não seríamos julgados”. Trata-se, na verdade, da auto-análise que o crente faz de si mesmo e, mediante a qual, participa conscienciosamente da Ceia do Senhor. Porém há outros que assentam-se à mesa do Senhor sem discerni-lhe o corpo: “Porque o que come e bebe indignamente come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo [diakrinōn to sōma] do Senhor”.

O discernimento pode manifestar-se também como um conhecimento sobrenatural que o Espírito Santo concede a determinados membros do corpo de Cristo para julgar ou discernir os espíritos: “…e a outro, o dom de discernir os espíritos [diakriseis pneumatōn]…”. O discernimento de espíritos, aludido no presente texto, é um dos extraordinários dons que concede ao crente a capacidade de discernir os espíritos, julgar as profecias e as motivações cristãs, entre outras espetaculares manifestações.

Embora, certos membros do Corpo de Cristo possuam este dom, todos os crentes são desafiados a “provar se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1Jo 4.1). O termo joanino para “provar”, não é diakrinō, mas dokimadzō, isto é, “colocar em prova”, “testar” ou “examinar”. Não somos escusados de frisar, que este último procede da raiz dok, cujo sentido é “perceber”, “pensar”, “pressupor”, “crer”.

Traz a ideia de estar convencido de que isto ou aquilo está errado ou certo. Também pressupõe, chegar a certeza das coisas mediante repetidos testes. Portanto, somos advertidos e orientados pela Palavra de Deus a julgar a procedência das motivações humanas, das profecias, dos movimentos de caráter messiânico entre outros.

O discernimento é uma capacidade do crente maduro de acordo com Hebreus 5.14: “Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal”. O crente maduro, no original teleiōn, é aquele que tem as suas faculdades cognitivas exercitadas na piedade e doutrina cristã. Este, é capaz de separar, julgar, testar, distinguir ou discernir tanto o bem como o mal [diakrisin kalou te kai kakou].

O termo kalōs, traduzido neste texto por “bem”, trata-se da capacidade para discernir a qualidade das ações morais humanas que lhes confere um caráter moral correto, bom ou útil. Já, o vocábulo kakōs, significa literalmente “erradamente”, “impiamente”, “mal”, ou seja, tudo o que se opõe à virtude, à probidade, à honra. Neste âmbito o crente é desafiado a discernir a cultura, a mídia, a política, a educação, a religião, comparando e confrontando-os com os postulados das Sagradas Escrituras.

O contexto religioso atual exige que o crente exerça mais do que nunca, o discernimento, não apenas como percepção racional mas como dom espiritual. Visto que o crente santo e fervoroso, aspira por uma experiência que o eleve acima da mediocridade espiritual tão comum em tempos pós-modernos, é ele, e não os indolentes, quem mais necessita do discernimento espiritual.

Esdras Costa Bentho, Mestre em Teologia PUC RJ

Por Litrazini
Graça e Paz


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