Dois discípulos até então desconhecidos na
narrativa dos evangelhos decidem seguir um novo caminho após a confirmação da
morte de Jesus. Eles andam amedrontados e conversam e se interrogam sobre o
fato. E o inusitado acontece: Jesus chega perto e anda com eles.
Lucas, o narrador, diz que os seus olhos
não podiam conhecê-lo. Era o momento de dividir com um imigrante a maior dor e
a maior incógnita que havia em seu coração. Jesus, o maior imigrante deste
mundo, sem ter onde reclinar a cabeça, foi misteriosamente acolhido por dois
dos seus discípulos.
Aqui já aprendemos duas lições:
1) o discípulo de Jesus é alguém do
caminho, do encontro, do diálogo e do compartilhamento da vida e
2) o discípulo de Jesus acolhe
imigrantes. Sim, ele acolhe, mas há uma tensão finíssima entre a necessidade de
acolhimento e a manutenção das leis de imigração de sua pátria, para que não
haja totalmente desconexo do espírito do evangelho.
O diálogo com o forasteiro é sobre o
forasteiro. Eles não sabiam, ainda. Estão conversando sobre a perda
daquele que simbolizava, representava e era a única esperança de vida para
eles. Estavam falando da dor da perda, da impotência no dia da angústia e das
sombras da morte que rodearam aquela sexta-feira nebulosa, sofrível e
agonizante. E dor, não havia ninguém melhor para conversar do que ele.
Os discípulos, mesmo sem saber quem era o
imigrante, decide recebê-lo em sua pousada. Mistério para esta temporalidade.
Não dá para receber todas as pessoas, mas não dá para não receber ninguém. Pois
não é uma questão de precaução social somente, mas de ser um agente da graça ou
não.
(Pausa para a questão da imigração): fazer
uma defesa de ser a favor ou contra é pouco; ficar em cima do muro é mais
seguro, mas temos uma boa alternativa que é ser igreja aos que mais precisam, e
isso vai sempre incorrer num risco de lidar com a intolerância de todo o tipo
de parte, mas a nossa salvação estará no fato de que não partirá de nenhum de
nós.
Tal questão não pode ser tratada em tão
poucas linhas, de modo que espero ter a oportunidade de abordar com mais calma
este dilema do homem deste século.
A narrativa termina com um momento
litúrgico, mas profundamente significativo: pão e vinho. Eles celebram a
comunhão e o forasteiro, ao partir o pão, faz arder os corações e deles
desaparece fisicamente. Mistério misturado com misericórdia. Amor
revelado. “Estou vivo e entre vocês”.
“Comam o pão da propiciação, pois eu propiciei com o meu corpo ante o Pai
a redenção de vocês”.“Bebam o vinho, pois eu fiz um novo e vivo caminho, que
não dá para Emaús, mas para Jerusalém… uma nova Jerusalém.”
Então os discípulos converteram (deram um
giro de 180 graus) o caminho deles e voltaram para a antiga Jerusalém. Lá, provavelmente,
foram revestidos de poder. E hoje, muito provavelmente, devem estar no lugar de
descanso do Pastor dos pastores, aguardando a entrada triunfal na cidade do
Rei, para habitar para sempre na casa que ele preparou para aqueles que o amam
e o seguem, custe o que custar.
Maycson Rodrigues
Por Litrazini
Graça e Paz
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