Em
1 Co. 11:17-34, encontra-se um dos textos bíblicos mais conhecidos por parte
dos evangélicos. É o chamado “texto da Ceia”, por ser lido em inúmeras
celebrações da Ceia do Senhor Jesus, mundo afora. Nele, o apóstolo Paulo,
escrevendo à confusa e efervescente Igreja na cidade grega de Corinto, faz-lhe
duras críticas, aconselha sobre pontos polêmicos, ameaça os rebeldes com o
rigor da disciplina eclesiástica e combate a incrível falta de discernimento da
Igreja naquele lugar. No texto em questão, temos circunscritos todos os temas supracitados,
com o diferencial de se referir à Ceia.
Primeiramente,
observamos Paulo exortar a Igreja, afim de que seus membros não fossem egoístas
e viciosos, como costumavam ser, inclusive na Ceia (vs. 20). O desprezo dos
coríntios pelos pobres era algo tão notório e havia tamanha segregação social
na igreja, que as repercussões caíram nos ouvidos zelosos de Paulo.
A
vicissitude carnal dos homens é, normalmente, o mal que os orienta. Aos
discípulos, é inadmissível que um comportamento tão excludente pudesse se fazer
presente. Bem, em Corinto não só era presente, como parecia ser a norma. Isto
revela o nível de apostasia prática em que uma igreja pode cair!
O
conhecimento das doutrinas não é suficiente para tornar a Igreja apta a ser o
que foi chamada a ser: uma agência de Deus na Terra. O apóstolo Paulo brada aos
coríntios: “Já estais fartos, já estais
ricos; chegastes a reinar sem nós; sim, tomara reinásseis, para que nós
viéssemos a reinar convosco. (…) Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós,
sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós desprezíveis”,
(1 Co. 4:8,10).
Misturando
ironia a uma palavra aplicada, dirigida à arrogância dos homens e mulheres
daquela comunidade, Paulo os exorta que sejam humildes, que abandonem a presunção
de serem especialistas, como pensavam que eram!
Vê-se
que arrogância eclesiástica pode tornar uma igreja não apenas avessa à prática
e moral cristã corretas, como incapaz de tornar a perceber como deve
andar um discípulo de Jesus. Não é à toa que, em 1 Co. 11:23, ele contrasta as
frívolas atitudes dos coríntios com aquela que talvez tenha sido a mais
auspiciosa atitude de Cristo, até aquele momento em seu ministério: as palavras
seguras da Ceia, que revelavam que ele sabia o que lhe aconteceria por amor “ao
mundo”, às pessoas de todas as épocas e localidades, uma abnegação total que
haveria de se tornar o centro da própria mensagem do Evangelho.
Destarte,
“quem come e bebe sem discernir o corpo,
come e bebe juízo para si” (1 Co. 11:29) é o que o apóstolo dirá aos
coríntios. O conselho subsequente, do (auto) exame, é, em contrapartida, aquilo
a que o Homem deve se aplicar para poder se tornar plenamente partícipe do
Corpo de Cristo Jesus. Jesus fora traído, não apenas por Judas, mas pelos
homens, inclusive, seus discípulos, que o abandonaram. Contudo, seu amor levou
a uma obra de justificação que incluiria todas as pessoas.
Em
outra epístola, o ap. Paulo pontua exatamente esta ideia: “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens
para a condenação, assim também, por um ato de justiça, veio a graça sobre
todos os homens para a justificação que dá a vida”, Rm. 5:18. Este amor é o
contraste que o apóstolo se utiliza para uma comparação exortativa à Igreja em
Corinto.
Como
traidores que éramos e, por amor e misericórdia, viemos a ser justificados,
é-nos inadmissível sermos encharcados novamente dos vícios que desonram toda a
obra salvífica da cruz. Este apego irracional aos bens materiais, em detrimento
daqueles que não os tem, constitui-se até hoje um dos maiores desafios para a
Igreja, a qual precisa ser lembrada constantemente que não pode seguir o curso
deste mundo, ou ainda, deixar-se envolver pela “concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e a soberba da
vida”, 1 Jo. 2:16, sem compreender claramente a abrangência dos males que
tais atos nos causam.
É
exatamente por isso que destacamos o texto de 1 Co. 11:17-34, pois a ausência
de um autoexame que nos faça perceber se estamos sendo guiados por luz ou
trevas, fé ou incerteza, serenidade ou intempestividade, amor ou ódio, pureza
ou malícia, é normalmente sinal de que estamos sendo guiados pelos vícios da
alma, não pelas virtudes da Palavra. O resultado é aquele descrito no mesmo
capítulo 11, versículo 30: “Eis a razão
por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem”.
Através
do texto-chave que norteou estas breves palavras, procuramos relacionar as
exortações paulinas ali prescritas e descritas com as situações reais em que
vivemos e às quais estamos suscetíveis.
Precisamos
entender que a vivência cristã é muito mais do que mera associação a práticas
religiosas sem sentido, antes, é o resultado de uma auto compreensão profunda,
que deve refletir a natureza de um viver digno, altruísta, abnegado e centralizado
na união incompreensível, mas gloriosa, do nosso ser com Cristo Jesus
Pr Artur Eduardo
Por
Litrazini
Graça
e Paz
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