Deus
não se limitou a falar. Deus veio ao nosso encontro. Não temos apenas um livro
entre as mãos. Deus faz parte da nossa própria História.
A
vida é uma marca constante de todo o texto bíblico. Ao longo de toda a Bíblia
Deus se nos vai revelando no concreto da História, através de homens e mulheres
de carne e osso, através das suas famílias e tribos, através dos povos e nações
que constituíram, às quais não faltam os grandes impérios que marcaram a
antiguidade.
Mas
a vida que por excelência nos é apresentada é a vida do próprio Deus na forma
humana em Jesus Cristo. É através dele que a graça e a verdade tomam forma.
Não
quer dizer que elas sejam uma absoluta novidade porque podemos encontrar a sua
presença ao longo de toda a trajetória na ação divina até Cristo. Mas é em
Jesus que ela atinge o seu apogeu na demonstração da presença divina, na Sua
pessoa, nas Suas palavras e nos Seus atos em concreto.
A
graça de que o Filho de Deus é portador expressa-se de forma muito particular
nos Seus encontros pessoais, de onde destacamos o encontro com Nicodemos e com
a mulher samaritana.
Cada
pessoa foi tratada por Cristo na sua singularidade própria. Não encontramos um
esquema único ao qual se subordinava cada um dos encontros mencionados nos
evangelhos.
Entre
Nicodemos e a mulher samaritana vão muitas diferenças que a cultura do tempo
acentuava. O primeiro deles procurou-O, o outro foi procurado. Em boa verdade
podemos dizer que de uma forma ou de outra todos eles, bem como cada um de nós,
somos procurados quando procuramos e talvez procuremos, sem saber que estamos a
ser procurados.
Em
qualquer dos casos cada um deles recebeu toda a atenção da parte do Mestre.
Cada um deles foi acolhido incondicionalmente e de forma direta conduzida ao
cerne da vontade e do propósito de Deus, no qual reside o desígnio da criatura
humana.
A
Nicodemos, homem religioso, Jesus afirmou categoricamente: “Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não
pode ver o reino de Deus.” (Jo 3:3).
À
mulher samaritana Jesus declarou entre outras coisas: “Se conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu
lhe pedirias, e ele te daria água viva.” (Jo 4:10).
A
revelação da graça que atinge a sua plenitude na pessoa de Jesus Cristo tem a
sua essência na forma como Ele se aproxima das pessoas, como Ele as acolhe,
como responde às suas questões mais íntimas, como Ele descobre os mais
profundos segredos do ser humano sem machucar e sem destruir, como Ele
confronta com a verdade sem condenar, como Ele vai em busca dos mais
desamparados e marginalizados, como Ele toca nos totalmente excluídos e
indesejados, como Ele denuncia a justiça própria e a arrogância espiritual,
como Ele desmonta a hipocrisia e a falsa sinceridade, como Ele fica em silêncio
diante dos falsos argumentos e das dúvidas que escondem apenas o orgulho e a
sobranceria.
Como
me sinto longe de poder entender o que significou naquele tempo Jesus se ter
deixado aproximar pelos leprosos e de os ter tocado, de se ter deixado adorar
por eles, de os ter acolhido e ouvido nas suas mais profundas necessidades.
Como
me sinto distante de poder entender o que significou Jesus ter acolhido os
publicanos e pecadores e ter sido acusado de ser amigo deles.
Como
tenho dificuldade em perceber o que representou naqueles dias ter falado com
mulheres, de ter sido anunciado por elas, de ter perdoado os pecados de uma
adúltera, de ter sido tocado por uma mulher com um fluxo de sangue.
Como
se torna difícil conseguir alcançar tudo o que naqueles dias significou tomar
nos seus braços as crianças, abençoá-las e tomá-las como modelo em relação ao
Reino de Deus. Como se torna difícil entender o que representou a recusa de
Cristo na cruz, face aos insultos e desafios dos religiosos que requeriam que
dela saísse para que n’Ele cressem.
Como
se torna difícil entender a Sua atitude para com um dos malfeitores crucificado
ao Seu lado, prometendo-lhe que logo mais se encontrariam no Paraíso.
A
graça não é um conceito abstrato, meramente doutrinário ou teológico, vai muito
além de qualquer conteúdo filosófico e só é percebido nesse relacionamento
restaurado de Deus com as Suas criaturas tal e qual como elas se encontram, sem
condições prévias, sem qualquer merecimento.
E
é com base nessa graça que começa a maior de todas as transformações, no
coração do homem e da mulher, para uma nova vida que se expressa num
relacionamento pessoal com o Criador e com cada uma das Suas criaturas qualquer
que seja a sua raça, condição social, língua ou cultura a caminho de uma
sociedade em que toda a injustiça será expurgada.
A
parábola do filho pródigo há de permanecer como a história mais singela e mais
eloquente acerca do amor do Pai não entendido por nenhum dos seus filhos, mas
que se revela em cada uma das etapas e para o qual não existe substituto. Fomos
criados para o amor.
Deus
em Cristo fez tudo o que haveria para fazer – o maior de todos os argumentos
reside na cruz. A essência do evangelho encontra-se no evangelho de João no
capítulo 3 e no versículo 16: “Deus amou
de tal modo o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele
crer não se perca, mas tenha a vida eterna”.
Juntos
em Jesus pela Palavra! A Bíblia e a Cruz muito mais do que uma imagem num
logótipo! O cerne da existência, da vida, da esperança e da fé.
Samuel
Pinheiro
Transcrito
Por Litrazini
Graça
e Paz
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