Havia
muita gente indo e vindo, a ponto de eles não terem tempo para comer (Mc 6.31)
Duas
vezes o Evangelho de Marcos registra que Jesus e seus discípulos não tinham tempo
para comer por causa da busca frenética de cura por parte de multidões de
pessoas sofridas. Na primeira os familiares de Jesus viajaram 48 quilômetros de
Nazaré a Cafarnaum para levá-lo à força para casa, preocupados com sua saúde,
seu bem-estar e sua segurança (Mc 3.20-21). Na segunda menção é Jesus mesmo
quem propõe um intervalo naquele corre-corre: “Venham comigo para um lugar deserto e descansem um pouco” (Mc
6.31).
O
contexto mostra que a iniciativa não logrou êxito, pois, quando Jesus chegou à
outra praia do mar de Genesaré, o sítio não estava mais deserto, porque para lá
havia afluído por terra “uma grande multidão”. A multidão era formada daquelas
ovelhas desviadas de que fala a profecia messiânica (Is 53.6): ovelhas fora do
aprisco, ovelhas desnorteadas, ovelhas complicadas, ovelhas sem verdes pastos e
sem águas tranquilas, sem vara e sem cajado, sem óleo e sem cálices
transbordantes, sem honra e sem banquete, sem usufruto da bondade e da
fidelidade do Senhor, pelo menos a partir do padrão do Salmo Pastoril (23).
Jesus
teve compaixão dessas ovelhas, procrastinou o desejado descanso e gastou o dia
inteiro abastecendo-lhes a alma com a Palavra de Deus e o estômago com pães e
peixes (Mc 6.32-44).
A
história é mais comovente ainda quando o Evangelho nos informa que naquele
momento Jesus estava precisando de muito mais do que um mero descanso físico. O
Senhor estava emocionalmente abatido com a notícia da morte de João Batista,
seu parente (Lc 1.36) e precursor (Lc 3.1-18). Além do mais, os pormenores da
morte de João foram trágicos: ele fora decapitado no cárcere e sua cabeça fora
colocada num prato e entregue a uma adolescente, que a levou à sua mãe, amante
de Herodes Antipas e autora intelectual do crime.
João
não era um João ninguém, pois a respeito dele Jesus deixou bem claro: “Entre os nascidos de mulher não surgiu
ninguém maior do que João Batista” (Mt 11.11). A prova de que o Senhor
precisava urgentemente de um refrigério na presença de Deus é que ele, depois
de insistir “com os discípulos para que entrassem no barco e fossem adiante
dele para Betsaida” e depois de despedir a multidão, “subiu [sozinho] a um monte para orar” (Mc 6.45-46).
E
ali ficou até “alta madrugada”, até por volta da quarta vigília da noite (entre
3 e 6 horas da manhã). Só então foi ao encontro dos discípulos.
Foi
em meio a essas circunstâncias que Jesus pastoreou aquela multidão que estava à
espera dele no lugar que se julgava deserto!
Por
Litrazini
Graça e
Paz
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