As
provações da alma e as aflições do coração ganham expressão nos suspiros e
soluços, nas queixas e gemidos, mas de uma forma que nunca são produzidos
simplesmente pela natureza humana.
A palavra
“suspiro” tem uma força bem maior em seu uso bíblico que em nossas conversas
normais, ou devemos dizer, no linguajar mais moderno; pois há trezentos anos, o
termo significava um lamento, ao invés de um sinal de petulância. “Os filhos de Israel suspiraram por causa
da servidão”(Êxodo 2.23), o significado disto é explicado no verso seguinte “E ouviu Deus o seu gemido” (v.24). “O seu gemido” expressa a dor e a
tristeza dos israelitas sob a opressão de seus senhores egípcios.
Também
assim, lemos que o penosamente afligido Jó declarou: “Porque antes do meu pão vem o meu suspiro; e os meus gemidos se
derramam como água.” (Jó 3.24). Assim, pelos suspiros de oração
intentamos aquelas perturbações e aspirações da alma que virtualmente são
sinônimos de gemidos.
Um
“suspiro” é uma declaração inarticulada, e um clamor indistinto para o resgate.
Às vezes, os santos são atacados e perturbados, e não podem falar numa
linguagem comum a suas emoções: onde as palavras lhes faltam, os pensamentos e
sentimentos de seus corações se expressam nos suspiros e clamores.
Os labores
do coração de um cristão debaixo da pressão do pecado que habita nele, as
tentações de Satanás, a oposição dos ímpios, a carga de uma sociedade
desagradável, a impiedade do mundo, a vida de submissão à causa de Cristo na
Terra, são descritos de forma variada nas Escrituras. Às vezes, fala-se de
estar “contristado” (1 Pedro 1.6),
de clamar “das profundezas” (Salmo
130.1), de “rugir” (Salmo 38.8), de “desmaiar” (Salmo 61.2), de estar “perturbado” (Salmo 88.15).
As
inquietações e angústia de sua alma são descritas como “gemidos” (Romanos 8.23). Os gemidos do crente não somente são
expressões de tristeza, como também de esperança, da intensidade de seus
desejos espirituais, de sua busca por Deus, e seu desejo ardente pela
bem-aventurança que eles esperam do alto – “E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação,
que é do céu… Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos
carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal
seja absorvido pela vida” (2 Coríntios 5.2,4). Provações da alma deste
tipo são peculiares para os regenerados, e, através delas, o cristão pode
identificar-se a si mesmo.
Se o
leitor agora é tomado por tristeza e suspiros, como um estrangeiro em sua
própria terra, então pode-se assegurar que você já não está morto em pecado. Se
você se encontra gemendo devido à infecção de seu coração e àquelas obras da
corrupção interior que atrapalham o amor perfeito e o serviço sem interrupção a
Deus, como você deseja fazê-lo, isto é prova de que um princípio de santidade
já foi comunicado à sua alma. Se você geme devido às concupiscências de sua
carne contra este começo de santidade, então você deve estar vivo para Deus.
O mundano
gemeria por sofrimentos comuns da vida, como perda financeira, dor no corpo, a
morte de um querido, mas esta é apenas a voz da natureza humana. O mundano
nunca chora em segredo sobre o esfriamento de seu coração ou atos de
incredulidade.
Os “gemidos” ou os “suspiros” são a prova da vida espiritual, o caminhar atrás da santidade,
a fome e sede de justiça. Eles são, como Sr. Winslow expressou “os sons guiados
para o céu”. Eles são a garantia do resgate (2 Coríntios 5.4). Eles são as
marcas da união do cristão com Aquele que é o “varão de dores” (Isaías 53.3).
Antes de
Jesus curar o surdo, lemos que “levantando
os olhos ao céu, suspirou” (Marcos 7.34), o que expressa Sua simpatia com o
sofredor, como alguém que “possa
compadecer-se das nossas fraquezas” sendo “como nós, em tudo tentado” (Hebreus 4.15). E, outra vez, quando os
fariseus vieram a ele “para o tentar”,
pedindo um sinal dos céus, vemos Cristo “suspirando
profundamente em seu espírito” (Marcos 8.11,12), o que denota Sua santa
indignação ao pecado deles, uma tristeza piedosa por suas pessoas, e um pesar
dentro de Sua própria alma; porque “ele
mesmo, sendo tentado, padeceu” (Hebreus 2.18). Sua santidade sentiu o
contato com a maldade. “Quanto mais alguém está próximo do céu, mais ele
deseja estar ali. Porque Cristo está ali. Porque quanto mais frequentes e
firmes são nossas visões dEle pela fé, mas anelamos e gememos pela remoção de
todas as obstruções e impedimentos.
O gemer é
um desejo veemente, mesclado com tristeza, pela falta daquilo que se deseja” (John
Owen).
Por outro
lado, os gemidos e suspiros espirituais do cristão são interpretados por Deus
como orações! Aqueles sacrifícios que são aceitáveis a Ele são o “coração contrito e quebrantado” (Salmo
51.17). Os soluços da alma são de grande valor diante dEle.
Os gemidos
do crente são uma linguagem inteligível ao céu: “porque o SENHOR já ouviu a voz do meu pranto” (Salmo 6.8): aquele
“pranto” pode ser uma súplica a Deus que a eloquência da oração professional
não tem. “Senhor, diante de ti está todo
o meu desejo, e o meu gemido não te é oculto” (Salmo 38.9).
Nossas lágrimas
contam a Ele da tristeza piedosa, nossos gemidos são as aspirações de um
espírito contrito. “O SENHOR contemplou
a terra, para ouvir o gemido dos presos” (Salmo 102.19,20). Aqui, então,
está a consolação – Deus ouve nossos suspiros secretos; Cristo está em contato
com eles (Hebreus 4.15); eles sobem ao céu como petições, e são a segurança do
resgate.
Arthur W.
Pink - Tradução Josaías Jr. | iPródigo
Por
Litrazini
Graça e
Paz
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