O bom humor permite
que uma família rompa o círculo vicioso da retroalimentação, que origina e
mantém crônicos os problemas. É preciso brincar
Um elemento essencial
no processo de desenvolvimento da intimidade conjugal é o bom humor. O termo
intimidade, aqui, não tem o sentido de sexualidade que muitas vezes lhe é
atribuído, mas sim o de um encontro significativo, descrito pelo filósofo
austríaco Martin Buber1 como algo que está além do subjetivo, aquém do
objetivo, sobre a estreita serra onde se encontram o “eu” e o “tu” – o reino do
“nosso”. Esta realidade, proveniente do encontro de duas pessoas,
mostra o caminho que leva para além do individualismo e do coletivismo, a fim
de chegar a um modelo relacional único.
Muitas tensões
relacionais produzidas nas falhas de comunicação diárias, seja pelas limitações
das palavras, seja pela ansiedade que bloqueia um ouvir pleno ou por qualquer
outro motivo, poderiam ser diluídas com uma pitada de bom humor no
relacionamento conjugal.
Há casais que jamais
riem juntos. Muitos têm dificuldade de rirem de si mesmos e das trapalhadas do
dia a dia. Fazemos e falamos muitas coisas equivocadas no nosso convívio diário
e precisamos aprender a relaxar por meio do humor.
O terapeuta de casais e de família Jorge
Maldonado afirma que nas famílias funcionais há um clima no qual as pessoas se
gostam e se divertem juntas. Em contraposição, as famílias disfuncionais
demonstram menos energia e espontaneidade, e um tom de depressão e desesperança
invade as interações e limita o desenvolvimento. O autor alerta que o excesso
de seriedade pode tornar o convívio familiar destrutivo.
Quando eu e minha esposa éramos noivos, fomos
convidados para uma festa de aniversário na casa de um amigo cuja família era
extremamente rígida e com pouca abertura para o humor. Na hora da despedida,
o vestido dela acidentalmente esbarrou em um copo de cristal que estava na
borda de uma mesa de centro. O copo caiu e quebrou. Houve um silêncio geral na
sala e a dona da casa ficou parada à porta, apenas olhando com uma expressão
séria. Minha esposa ainda tentou catar os cacos e fazer algo para remediar a
situação. Como todos ficaram muito sérios, eu a tomei pela mão, nos despedimos
e fomos embora, com a sensação de termos cometido um crime hediondo. É o que
acontece quando falta bom humor nas famílias.
Criei um neologismo
para tais casais e famílias – chamo-os de “famílias Hardy”, em alusão ao
personagem do desenho animado Lippy e Hardy – o leão, otimista, e a hiena,
pessimista –, no qual a hiena (Hardy) sempre acha que tudo vai terminar mal e
vê o lado negativo em tudo (“Oh dia, oh mês, oh azar...”).
O
bom humor permite que uma família rompa o círculo vicioso da retroalimetação,
que origina e mantém crônicos os problemas.
É preciso brincar;
com os filhos – sentar no chão, brincar de esconde-esconde pela casa ou outras
brincadeiras criativas – e também com o cônjuge – fazer cócegas, correr na
chuva ou coisas semelhantes.
Mesclar o bom humor e
a brincadeira com a ternura e a expressão de carinho aprofunda os vínculos e a
unidade conjugal. Afinal não é à toa que o apóstolo Paulo, repetidamente, exorta:
“Alegrai-vos!” (Fl 3.1; 4.4).
Fonte: Ultimato
Por Litrazini
Graça e Paz
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