Houve
um sujeito bastante interessante que conviveu com um deserto pela sua vida
toda. Uma das figuras mais excêntricas em toda a Bíblia, de quem pouco se fala
e a respeito de quem os detalhes fornecidos são capazes apenas de relacioná-lo
com aquele típico profeta estraga-prazeres.
Suas
vestes eram fora de moda e rústicas. Sua dieta, um tanto esquisita. Ele cresce
e ministra no deserto (Lc 1:80). Ele tem uma vida frugal e no mínimo diferente.
Lembra muito o Elias do Velho Testamento, por seus modos não convencionais e
pela coragem de denunciar os podres dos palácios. Aliás, assim ele é
escatologicamente identificado pelo próprio Senhor Jesus (v.14), de quem também
recebe o título de “o maior nascido de
mulher”.
Este
João, quando lhe perguntavam quem era, tinha uma resposta direta e objetiva, na
ponta da língua: “sou apenas uma voz”.
Importante para a nossa reflexão é que esta voz clamava justamente no deserto.
Apesar de suas credenciais extremamente elevadas, ele nunca pretendeu ser mais
do que isso. Nem mesmo quando os outros tentaram a fazê-lo (Jo 1:19-23).
Tinha
uma missão bem definida e concentrou todos os seus esforços para cumpri-la.
Viveu e ministrou isolado e solitário. Sim, há muitas e boas lições a respeito
do deserto na vida de João Batista.
Desertos
não preparam celebridades. Primeiro porque elas não gostam do ostracismo.
Elas precisam estar na mídia. Quem quer a luz das câmeras apontada para si não
pode ir para o deserto. Elas não o alcançarão ali.
Depois
de viver e crescer nesse ambiente rude e solitário, João Batista, o maior de
todos os profetas estava pronto para dizer: “Convém que ele cresça e eu diminua” (João 3:30). A julgar pelos
títulos cada vez mais criativos e pomposos, os atuais “profetas” preferiram a
versão do “convém que ele cresça e eu apareça”. Talvez esteja falando um pouco
de deserto para essas versões modernizadas de profetas.
Desertos
deixam uma marca precisa sobre o valor do tempo e da vida (Mt 3:1,2). João
Batista tinha isso como base da sua mensagem (“Arrependei-vos porque o tempo está próximo”), além de ter entrado
e saído de cena na hora exata. Ele era um arauto, alguém que precedia o Rei.
Uma vez feito o seu serviço, ele ficou na dele. Passou o bastão e os discípulos
que tinha e não teve medo de apresentá-los a Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” foi a senha
para que todos entendessem claramente que o seu ministério tinha chegado ao
fim.
Sem
crise, sem ciúmes, sem ressentimentos. Era a prova de que ele tinha aprendido
no deserto que as coisas tem que acontecer no momento certo.
Desertos
preparam pessoas dispostas a não negociar valores eternos (Mt 14:3-5).
Quem vive e trabalha no deserto, depois de tudo que passou ali, saberá
manter-se forte o suficiente para não se dobrar diante dos mais poderosos (Mc
6:20).
O
deserto forja um caráter provado e uma estrutura forte. Desertos geram mais do
que idealistas ou visionários. Desertos geram pessoas com convicções
inabaláveis. Não tente subornar quem foi criado no deserto, porque vai se dar
mal. Vai ouvir o que não quer e mais um pouco.
Os
desertos fizeram parte da vida de gente importante. Desertos foram a moldura,
árida, inóspita, cruel até, mas que abrigou verdadeiros tesouros.
Marcos
Soares
Por
Litrazini
Graça
e Paz
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